sábado, 7 de maio de 2011

Notícias de Rosalie - LUA NOVA

Excerto postado no site oficial da escritora Stephenie Meyer.
Este excerto é relativo ao 2º livro da saga, Lua Nova, quando Edward descobre que Bella se atirou de um penhasco e pensa que esta morreu.
(Ponto de vista de Edward)

Notícias de Rosalie

O telefone no meu bolso vibrou outra vez. Era a 25ª vez em 24 horas. Eu pensei em abrir o telefone, pelo menos ver quem é que estava a tentar contactar-me. Talvez fosse importante. Talvez o Carlisle precisasse de mim.

Pensei nisso, mas não me mexi.

Eu não tinha bem a certeza de onde estava. Algum sotão escuro, cheio de ratos e aranhas. As aranhas ignoravam-me, e os ratos afastavam-se o mais possível. O ar estava espesso com os pesados cheiros de óleo de cozinha, carne, transpiração humana, e a camada quase sólida de poluição que era de facto visível no ar húmido, como uma fita de filme por cima de tudo.

Por baixo de mim, quatro assoalhadas de um edifício guetto tremia com vida. Não me importei em separar os pensamentos das vozes. Eles faziam um grande clamor espanhol que eu não ouvi. Apenas deixei os sons afastarem-se de mim. Não tinha significado. Nada daquilo tinha significado. A minha própria existência não tinha importância. O mundo inteiro não tinha importância.

Tinha a testa pressionada contra os meus joelhos, e perguntei-me durante quanto mais tempo é que seria capaz de suportar isto. Talvez não houvesse esperança. Talvez, se a minha tentativa estivesse condenada ao falhanço de qualquer das maneiras, eu devia parar de me torturar e simplesmente voltar…

Essa ideia era tão poderosa, tão cicatrizante. Como as palavras contidas num forte anestésico, afastando de mim a montanha de dor que me enterrava, que me fazia ofegar, que me punha tonto.

Eu podia ir-me agora embora, eu podia voltar.

A cara de Bella, sempre por trás dos meus olhos, sorriu para mim.

Era um sorriso de boas vindas, de perdão, mas não teve o efeito que o meu subconsciente provavelmente queria que tivesse. Claro que eu não podia voltar. O que era a minha dor, afinal, em comparação à sua felicidade? Ela devia ser capaz de sorrir, livre de medo e perigo. Livre de um longo futuro sem alma. Ela merecia melhor que isto. Ela merecia melhor que eu. Quando ela deixasse este mundo, ela iria para um lugar que estava para sempre impedido para mim, não importando como me tinha conduzido até lá.

A ideia daquela final separação era muito mais intensa do que a dor que eu já tinha. O meu corpo tremeu com ela. Quando a Bella fosse para o lugar onde pertencia e eu nunca poderia, eu não ficaria para trás. Devia existir esquecimento, devia haver alívio.

Essa era a minha esperança, mas não havia garantias. Mesmo quando eu me tornasse em cinzas, será que ainda iria sentir de alguma forma a tortura da perda dela? Tremi de novo.

E, raios, eu tinha prometido. Eu prometi-lhe que não iria atormentar a sua vida de novo, levar-lhe os meus demónios negros. Eu não ia voltar para o seu mundo. Não podia fazer alguma coisa certa por ela? Nada?

A ideia de voltar para a nublada cidade que sempre foi o meu verdadeiro lar neste planeta rastejou nos meus pensamentos outra vez.

Só para me certificar. Só para ver se ela está bem, segura e feliz. Não para interferir. Ela nunca iria saber que eu tinha lá estado…

Não, raios, não.

O telefone vibrou outra vez.

“Raios, raios, raios ” – Rugi.

Eu podia usar a distracção, supus. Abri o telefone e vi os números com o primeiro choque que sentia em meio ano. Porque é que Rosalie havia de me telefonar? Ela era a única pessoa que estava provavelmente a desfrutar da minha ausência.

Devia haver algo realmente de errado se ela precisava de falar comigo. Subitamente preocupado pela minha família, carreguei no botão de atender.

“O quê?” – perguntei tenso.

“Ah, uau. O Edward atendeu o telefone. Sinto-me tão honrada!”

Mal ouvi o tom dela, soube que a minha família estava bem. Ela devia simplesmente estar aborrecida. Era difícil adivinhar os seus motivos sem os pensamentos como guia. A Rosalie nunca fez grande sentido para mim. Os seus impulsos eram normalmente encontrados nos mais estranhos tipos de lógica. Fechei o telemóvel.

“Deixa-me em paz” – sussurrei para ninguém.

E é claro que o telefone vibrou outra vez.

Será que ela ia continuar a telefonar-me até que me dissesse qual que fosse a mensagem com que me planeava irritar? Provavelmente. Iam passar meses até que se cansasse deste jogo. Brinquei com a ideia de a deixar carregar no mesmo botão durante o próximo meio ano… E então suspirei e atendi o telemóvel de novo.

“Despacha-te”

Rosalie despachou-se com as palavras. “Pensei que quisesses saber, a Alice está em Forks”.

Abri os meus olhos e olhei para as barras de madeira podre a três centímetros da minha cara.

“O quê?” – A minha voz estava vazia, sem emoção.

“Sabes como é que é a Alice… pensa que sabe tudo. Como tu.” – Riu-se sem humor. A sua voz tinha uma margem nervosa, como se estivesse subitamente insegura em relação ao que estava a fazer.

Mas a minha raiva tornou difícil preocupar-me com qual seria o problema de Rosalie.

A Alice jurou-me que iria seguir as minhas direcções no que dizia respeito a Bella, apesar de não concordar com a minha decisão. Ela prometeu que ia deixar Bella sozinha… enquanto eu deixasse. Claramente, ela pensou que eventualmente eu iria deixar de resistir à dor. Talvez estivesse certa sobre isso.

Mas não deixei. Ainda. Portanto o que é que ela estava a fazer em Forks? Queria apertar aquele pescoço magro. Não que Jasper me deixasse aproximar dela, mal percebesse um bocado da fúria que irradiava de mim…

“Ainda aí estás, Edward?”

Não respondi. Apertei a cana do meu nariz com a ponta dos meus dedos, se a Alice já tinha voltado…

Não, não, não, não. Eu fiz uma promessa. Bella merecia uma vida. Eu fiz uma promessa. Bella merecia uma vida.

Repeti as palavras, como se para me convencer, tentando afastar da minha cabeça a sedutora imagem da janela negra de Bella. O portal para o meu único santuário.

Não havia dúvidas que teria de rastejar, quando lá chegasse. Mas não me importei com isso. Eu podia, de bom grado, passar a próxima década de joelhos se estivesse com ela.

Não, não, não.

“Edward? Nem sequer queres saber porque é que ela lá está?”

“Não particularmente.”

A voz de Rosalie tornou-se um bocado convencida. Estava satisfeita, sem dúvida, por me ter arrancado uma resposta. “Bem, claro, ela não está exactamente a quebrar as regras. Quer dizer, tu só nos avisaste para nos afastarmos da Bella, certo? O resto de Forks não importa.”

Pisquei os meus olhos devagar. A Bella foi-se embora? Os meus pensamentos circularam a inesperada ideia. Ela ainda não tinha acabado o liceu, por isso deve ter voltado para a mãe. Isso era bom. Ela devia viver na luz do dia. Era bom que ela tenha sido capaz de pôr as sombras para trás.

Tentei engolir, e não consegui.

A Rosalie deu um riso nervoso. “Portanto não precisas de ficar zangado com a Alice.”

“Então porque é que me ligaste, Rosalie, se não queres por a Alice em sarilhos? Porque é que me estás a incomodar? Ugh!”

“Espera!” – Ela disse, percebendo que eu era capaz de desligar outra vez. “Não foi por isso que eu telefonei.”

“Então porquê? Diz-me depressa. E depois deixa-me em paz.”

“Bem…” – Hesitou.

“Desembucha, Rosalie. Tens dez segundos.”

“Acho que devias vir para casa” – Rosalie disse com pressa. “Estou cansada de ver Esme infeliz e o Carlisle a nunca se rir. Devias sentir-te envergonhado com o que lhes fizeste. O Emmett sente a tua falta a toda a hora e começa-me a irritar. Tu tens uma família. Cresce e pensa em algo sem ser em tu próprio.”

“Conselho interessante, Rosalie. “

“Eu estou a pensar neles. Ao contrário de ti. Não queres saber o quanto magoaste Esme? E toda a gente? Ela ama-te mais do que o resto de nós, e tu sabes isso. Vem para casa.”

Eu não respondi.

“Pensei que mal esta coisa toda de Forks acabasse, tu ias ultrapassar isso.”

“Forks nunca foi o problema, Rosalie” – Disse, tentando ser paciente. O que ela disse sobre Esme e Carlisle atingiu um ponto fraco. “Só porque a Bella” – era difícil dizer o nome dela em voz alta – “se mudou para a Florida, não significa que eu seja capaz… Olha, Rosalie. Eu lamento imenso, mas, acredita em mim, não ia fazer ninguém mais feliz se eu estivesse aí.”

“Hum…”

Lá estava, aquela hesitação nervosa de novo.

“O que é que não me estás a contar, Rosalie? A Esme está bem? O Carlisle…”

“Eles estão bem. É só que… bem, eu não disse que a Bella se mudou.”

Não falei. Corri toda a conversa na minha cabeça. Sim, a Rosalie disse que a Bella se mudou. Ela disse: … tu só nos avisaste para nos afastarmos da Bella, certo? O resto de Forks não importa. E depois: Pensei que mal esta coisa toda de Forks acabasseEntão Bella não estava em Forks. O que é que ela quis dizer, Bella não se mudou?

Depois Rosalie apressou-se nas palavras outra vez, dizendo-as quase zangada desta vez.

“Eles não queriam dizer-te, mas eu acho que isso é estúpido. Quanto mais depressa ultrapassares isto, mais cedo podes voltar ao normal. Porquê deixar-te deambular à volta dos cantos negros do mundo quando não há necessidade para isso? Podes vir para casa agora. Podemos ser uma família de novo. Acabou.”

A minha mente pareceu partir-se. Eu não conseguia fazer sentido das palavras dela. Era como se houvesse algo muito, muito óbvio que ela me estava a dizer, mas eu não fazia ideia do que era. O meu cérebro jogou com a informação, fazendo padrões estranhos dela. Não fazia sentido.

“Edward?”

“Eu não percebo o que estás a dizer, Rosalie.”

Uma longa pausa, o tempo de alguns batimentos de coração humanos.

“Ela está morta Edward.”

Uma pausa ainda mais longa.

“Eu…lamento. Mas tu tens o direito de saber, acho eu. A Bella… atirou-se de um penhasco há dois dias. A Alice viu isso, mas era tarde de mais para fazer alguma coisa. Acho que ela teria ajudado, quebrado a palavra, se tivesse havido tempo. Ela voltou para ver o que podia fazer pelo Charlie. Tu sabes como ela sempre se importou com ele…”

O telefone desligou-se. Demorei alguns segundos a perceber que tinha sido eu a desligá-lo.

Sentei-me na poeirenta escuridão durante um longo, espaço congelado de tempo. Era como se o tempo tivesse acabado. Como se o universo tivesse parado.

Devagar, mexendo-me como um homem velho, liguei outra vez o telemóvel e marquei o único número que prometi a mim mesmo nunca mais voltar a telefonar.

Se fosse ela, eu desligava. Se fosse Charlie, eu arranjava a informação que precisava. Eu ia provar que a piadinha doentia da Rosalie estava errada. E depois ia voltar para o meu nada.

“Residência Swan” – respondeu uma voz que nunca tinha ouvido antes. A voz de um homem, profunda, mas ainda jovem.

Não parei para pensar nas implicações daquilo.

“Daqui é o Dr. Carlisle Cullen.” – Eu disse, imitando perfeitamente a voz do meu pai. “Posso por favor falar com Charlie?”

“Ele não está aqui” – A voz respondeu, e fiquei ligeiramente surpreendido pela raiva na voz. As palavras eram quase um rosnar. Mas isso não importava.

“Bom, então onde é que ele está?” – Exigi, ficando impaciente.

Houve uma curta pausa, como se o estranho quisesse esconder-me a informação.

“Ele está no funeral” – O rapaz finalmente respondeu.

Desliguei o telefone de novo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

12º Capítulo . ÚLTIMO

Este blog já tem do que 1 página, portanto se quiserem começar a ler do príncipio levem em conta que começa de baixo para cima. Dirijam-se ao fundo da página e cliquem em 'Mensagens Antigas' .

12. Complicações

A Bella e eu andámos silenciosamente até à aula de biologia. Eu estava a tentar focar-me no momento, na rapariga ao meu lado, no que era real e sólido, em qualquer coisa que mantivesse as visões enganosas e sem sentido da Alice longe de minha cabeça.
Passámos por Angela Weber, que estava na calçada a discutir um trabalho com um rapaz da sua aula de trigonometria. Passei pelos pensamentos dela mecanicamente, à espera de mais desapontamentos, apenas para ser surpreendido com o seu quase grito de alegria com um pouco de melancolia.
Ah, então havia alguma coisa que Angela queria. Infelizmente, não era algo que pudesse ser facilmente embrulhado.
Senti-me estranhamente confortado por um momento, ao ouvir o desejo sem esperança de Angela. Um sentimento de afinidade que Angela de nunca saberia, passou por mim, e eu fiquei, naquele segundo, de acordo com aquela simpática rapariga humana.
Eu estava estranhamente consolado por saber que não era o único a viver uma trágica história de amor. Corações partidos estavam em todo o lado.
No segundo seguinte, fiquei abruptamente e completamente irritado. Porque a história de Angela não tinha que ser trágica. Ela era humana e ele era humano, e a diferença que parecia tão insuperável na sua cabeça era ridícula, realmente ridícula comparada com a minha própria situação. Não havia motivo para o seu coração partido. Que tristeza mais desperdiçada, quando não havia nenhuma razão válida para ela não estar com quem queria. Por que é que ela não devia ter o que ela queria? Por que é que esta história não havia de ter um final feliz?
Eu queria dar-lhe um presente… Bem, eu iria dar-lhe o que ela queria. Sabendo o que eu sabia da natureza humana, provavelmente nem seria muito difícil. Analisei a consciência do rapaz ao lado dela, o objecto dos seus sentimentos, e ele não pareceu estar de má vontade, estava simplesmente bloqueado pela mesma dificuldade que ela estava. Sem esperanças, tal como ela estava.
Tudo que eu teria que fazer era implantar a sugestão…
O plano formou-se facilmente, o guião escreveu-se por ele próprio sem esforço da minha parte. Iria precisar da ajuda de Emmett. Convencê-lo a concordar com isto era a única verdadeira dificuldade. A natureza humana era muito mais fácil de manipular do que a natureza dos vampiros.
Estava satisfeito com a minha solução, com o meu presente para Angela. Era uma boa distracção dos meus próprios problemas. Quem me dera que os meus fossem tão fáceis de serem resolvidos.
O meu humor estava ligeiramente melhor enquanto eu e a Bella nos sentámos nos nossos lugares. Talvez eu devesse ser mais positivo. Talvez houvesse alguma solução para nós que me estivesse a escapar, da mesma forma que a solução óbvia para Angela não era visível para ela. Pouco provável… mas para quê perder tempo com falta de esperanças? Eu não tinha tempo para desperdiçar quando se tratava de Bella. Cada segundo importava.
O Senhor Banner entrou a empurrar uma velha televisão e leitor de vídeo. Ele estava a passar por uma matéria que não lhe interessava particularmente (distúrbios genéticos) ao mostrar um vídeo pelos próximos três dias. O Óleo de Lorenzo não era uma peça muito alegre, mas isso não parou a excitação na sala. Sem notas, sem materiais de teste. Três dias livres. Os humanos estavam contentíssimos.
Não me fazia diferença de qualquer das maneiras. Eu não tinha planeado prestar atenção a alguma coisa a não ser Bella.
Hoje não desviei a minha cadeira da dela, para me dar espaço para respirar. Em vez disso, sentei-me proximamente ao lado dela como qualquer humano normal faria. Mais perto do que quando nos sentámos no meu carro, perto o suficiente para que o lado esquerdo do meu corpo se sentisse submergido no calor da sua pele.
Era uma experiência estranha, tanto agradável como enervante, mas eu preferia isto a sentar-me na outra ponta da mesa. Era mais ao que eu estava habituado, mas no entanto, rapidamente percebi que não era o suficiente. Eu não estava satisfeito. Estar a esta distância dela fez-me querer estar ainda mais perto. A força crescia à medida que me aproximava dela.
Eu tinha-a acusado de ser um íman para o perigo. Neste momento, parecia que aquela era a verdade literal. Eu era perigo, e a cada centímetro que eu me permitia ficar mais próximo dela, a sua força de atracção crescia em força.
E então o Senhor Banner desligou as luzes.
Foi estranho quanta diferença isto fez, considerando que a falta da luz significava pouco para os meus olhos. Eu ainda conseguia ver tão perfeitamente como antes. Cada detalhe da sala era claro.
Então porquê o súbito choque de electricidade no ar nesta sala escura que não era escura para mim? Era porque eu sabia que era o único que conseguia ver claramente? Era por Bella e eu estarmos invisíveis para os outros? Como se estivéssemos sozinhos, só nós os dois, escondidos na sala escura, sentados tão perto um do outro…
A minha mão mexeu-se na direcção de Bella sem a minha permissão. Só para tocar na sua mão, segurá-la na escuridão. Seria um erro assim tão horrível? Se a minha pele a incomodasse, ela só tinha que afastar a sua mão…
Puxei rapidamente a minha mão, cruzei os braços firmemente contra o meu peito e cerrei as minhas mãos. Sem erros. Prometi a mim mesmo que não cometeria erros, independentemente de parecerem pequenos. Se eu segurasse na mão dela, eu ia querer mais. Outro toque insignificante, outro movimento para mais perto dela. Eu conseguia sentir isso. Um novo tipo de desejo estava a crescer dentro de mim, a lutar para superar o meu auto-controlo.
Sem erros.
Bella cruzou os braços com segurança sob o seu próprio peito, e as suas mãos cerraram-se até punhos, tal como as minhas.
No que é que estás a pensar? Eu estava a morrer por lhe murmurar essas palavras, mas a sala estava silenciosa o suficiente para se ouvir a mínima conversa.
O filme começou, iluminando a escuridão apenas um bocado. Bella olhou para mim. Reparou na maneira rígida que eu mantinha o meu corpo, tal como ela, e sorriu. Os seus lábios separaram-se ligeiramente, e os seus olhos pareciam cheios de calorosos convites.
Ou talvez eu estivesse a ver o que queria ver.
Sorri-lhe também. A respiração dela saiu ligeiramente ofegante e ela olhou rapidamente para outro lado.
Isso piorou as coisas. Eu não sabia os pensamentos dela, mas tinha quase a certeza que antes eu tinha tido razão, e que ela queria que eu lhe tocasse. Ela sentiu esse desejo perigoso assim como eu.
Entre o corpo dela e o meu, a electricidade intensificava-se.
Ela não se mexeu durante aquela hora, mantendo-se rígida, com a postura controlada assim como eu controlava a minha. Ocasionalmente, ela espreitava para me ver outra vez, e a corrente eléctrica passava por mim com um súbito choque.
A hora passou lentamente, mas mesmo assim, não lenta o suficiente. Isto era tão novo, eu podia ficar aqui sentado com ela durante dias, só para experimentar o sentimento por completo.
Tive uma dúzia de diferentes discussões comigo mesmo enquanto os minutos passaram. Racionalidade a lutar contra o desejo enquanto eu tentava justificar tocar-lhe.
Finalmente, o Sr. Banner ligou as luzes novamente.
Na brilhante luz fluorescente, a atmosfera da sala voltou ao normal. A Bella suspirou e espreguiçou-se, a flectir os dedos à sua frente. Deve ter sido desconfortável para ela manter-se naquela posição por muito tempo. Era mais fácil para mim, a imobilidade vinha naturalmente.
Soltei um riso devido à expressão de alívio no seu rosto – Bem, foi interessante.
- Hum - Murmurou, a entender claramente ao que eu me referia, mas sem fazer comentários. O que eu não dava para saber o que é que ela estava a pensar neste momento.
Suspirei. Nem toda a vontade do mundo ia ajudar nisso.
- Vamos? - Perguntei, levantando-me.
Ela fez uma careta e pôs-se de pé de uma maneira instável, as suas mãos estendidas como se estivesse com medo que fosse cair.
Eu podia oferecer a minha mão. Ou podia colocar essa mesma mão por baixo do seu cotovelo, apenas ligeiramente, e apoiá-la. De certeza que não seria assim uma infracção tão horrível…
Sem erros.
Ela estava bastante silenciosa enquanto caminhávamos em direcção do ginásio. A ruga entre os seus olhos era evidente, um sinal de que ela estava a pensar profundamente. Eu, também, estava a pensar profundamente.
Um toque na sua pele não a iria magoar, argumentava o meu lado egoísta.
Eu podia facilmente moderar a pressão da minha mão. Não era propriamente difícil, desde que eu estivesse em pleno controlo de mim próprio. O meu sentido táctil era mais desenvolvido do que o de um humano. Eu podia fazer malabarismos com uma dúzia de cristais sem partir nenhum. Eu podia tocar numa bolha de sabão sem a rebentar. Desde que eu estive em pleno controlo…
Bella era como uma bolha de sabão, frágil e efémera. Temporária.
Durante quanto mais tempo é que eu seria capaz de justificar a minha presença na sua vida? Quanto tempo é que eu tinha? Será que teria outra oportunidade como esta, como este momento, este segundo? Ela não estaria sempre ao alcance dos meus braços…
Bella virou-se para olhar para mim à porta do ginásio, e os seus olhos arregalaram-se devido à expressão do meu rosto. Não falou. Eu olhei para mim mesmo através do reflexo nos seus olhos, e vi o conflito dentro de mim. Vi a minha cara a mudar quando o meu melhor lado perdeu o argumento.
A minha mão levantou-se, sem uma ordem consciente para que isso acontecesse. Tão gentilmente como se ela fosse feita do vidro mais fino, como se ela fosse tão frágil como uma bolha, os meus dedos afagaram a pele quente que cobria a sua bochecha. Aqueceu por baixo do meu toque, e eu conseguia sentir o fluxo sanguíneo a acelerar por baixo da sua pele transparente.
Chega, ordenei, apesar de a minha mão estar a lutar para se moldar àquela parte do seu rosto. Chega.
Foi difícil retirar a mão, parar de me aproximar mais dela do que já estava. Mil possibilidades diferentes passaram na minha cabeça num instante, milhares de maneiras diferentes de lhe tocar. A ponta do meu dedo a traçar o contorno dos seus lábios. A minha palma a acariciar o seu queixo. Tirar o gancho do seu cabelo e deixá-lo espalhar-se na minha mão. Os meus braços a envolver-lhe a cintura, a segurá-la contra a extensão de meu corpo.
Chega.
Forcei-me a virar, para me afastar dela. O meu corpo mexeu-se pesadamente, sem vontade.
Deixei a minha mente ficar para trás para ver Bella enquanto eu me afastava, quase a da tentação. Apanhei os pensamentos de Mike Newton, eram os mais audíveis, enquanto ele via Bella a passar por ele sem lhe ligar, os seus olhos desfocados e as bochechas coradas. Ele enfureceu-se e de repente o meu nome estava misturado em asneiras na mente dele. Não consegui evitar rir-me em resposta.
A minha mão estava a formigar. Flexionei-as e depois cerrei os punhos, mas a dormência continuou, sem dor.
Não, eu não a tinha magoado, mas mesmo assim, tocar-lhe tinha sido um erro.
Pareciam chamas, como se a sede ardente na minha garganta se tivesse espalhado pelo meu corpo todo.
Da próxima vez que eu estivesse próximo dela, seria eu capaz de me impedir de lhe tocar novamente? E se eu lhe toquei uma vez, seria capaz de parar por aí?
Sem mais erros. Era isso. Contenta-te com a memória, Edward, disse para mim mesmo com um sorriso, e guarda as tuas mãos para ti próprio. Era isso ou teria que me forçar a partir, de alguma forma. Porque eu não me poderia permitir a estar perto dela se eu insistisse em cometer estes erros.
Respirei fundo e tentei acalmar os meus pensamentos.
Emmett apanhou-me fora do edifício de Inglês.
- Hei, Edward - Ele parece melhor, estranho, mas melhor. Feliz.
- Hei Em - Parecia feliz? Supus que sim, que apesar do caos na minha cabeça, eu me sentia dessa forma.
É melhor manteres a boca fechada, miúdo. A Rosalie quer arrancar-te a língua.
Suspirei – Desculpa ter-te deixado a tratar disso. Estás zangado comigo?
- Nah, a Rosalie ultrapassa isso. Era suposto acontecer de qualquer das maneiras – Com o que a Alice vê a aproximar-se…
As visões de Alice não são algo que eu quisesse pensar neste momento. Olhei para a frente, os meus dentes cerrados.
Enquanto procurava uma distracção, vi Ben Cheney a entrar na sala de Espanhol à nossa frente. Ah, aqui estava a minha oportunidade de dar a Angela Weber o seu presente.
Parei de andar e agarrei no braço de Emmett – Aguenta um segundo.
O que se passa?
- Eu sei que não mereço, mas far-me-ias um favor de qualquer das maneiras?
- O que é? - Perguntou, curioso.
Por baixo da minha respiração, e a uma velocidade que faria as palavras incompreensíveis para qualquer humano, independentemente do volume a que fossem ditas, expliquei-lhe o que queria.
Ele fitou-me, sem expressão, quando eu terminei. Os seus pensamentos estavam tão confusos quanto a sua expressão.
- E então? – Perguntei – Ajudas-me com isso?
Demorou um minuto para que ele respondesse - Mas, porquê?
- Vá lá Emmett, por que não?
Quem és tu e o que é que fizeste ao meu irmão?
- Não és tu que te queixas que a escola é sempre o mesmo? Isto é algo um tanto diferente, não achas? Considera isto uma experiência, uma experiência sobre a natureza humana.
Olhou para mim por mais um momento antes de dizer - Bem, isto é diferente, lá isso é… Ok, pronto - Bufou Emmett e depois encolheu os ombros – Eu ajudo-te.
Sorri-lhe, sentia-me mais entusiasmado com o meu plano agora do que antes. A Rosalie era uma chata, mas eu ia ficar sempre a dever-lhe uma por ter escolhido Emmett, ninguém tinha um irmão melhor que o meu.
Emmett não precisava de praticar. Eu sussurrei-lhe as falas enquanto entrávamos na sala de aula.
Ben já estava no seu lugar, atrás do meu, a ajeitar os seus trabalhos para entregar.
Emmett e eu, ambos nos sentámos e fizemos a mesma coisa. A turma ainda não estava em silêncio, o burburinho de conversas paralelas continuaria até que a senhora Goff chamasse à atenção. Ela não estava com pressa, estava a contemplar os questionários da aula passada.
- Então – Disse Emmett, a sua voz mais alta que o necessário se estivesse mesmo a falar apenas para mim – Já convidaste a Angela Weber para sair?
O som de papéis atrás de mim cessou abruptamente enquanto Ben congelava, a sua atenção repentinamente cravada na nossa conversa.
Angela? Eles estão a falar da Angela?
Óptimo. Tinha a sua atenção.
- Não – Disse eu, a balançar lentamente a cabeça para parecer arrependido.
- Por que não? - Improvisou Emmett – Estás com medo?
Sorri-lhe – Não. Ouvi dizer que estava interessada noutra pessoa.
O Edward Cullen ia convidar a Angela para sair? Mas… Não. Eu não gosto disso. Eu não o quero perto dela. Ele não… não é certo para ela. Não é… seguro.
Eu não tinha previsto o cavalheirismo, o instinto protector. Tinha estado a trabalhar no ciúme. Mas qualquer coisa servia.
- Vais deixar que isso te impeça? - Perguntou Emmett, a improvisar novamente – Não estás numa de competição?
Olhei para ele, mas fiz uso do que ele me deu – Olha, eu acho que ela gosta mesmo de um tal Ben. Não a vou tentar convencer do contrário. Há outras raparigas.
A reacção na cadeira atrás da minha foi eléctrica.
- Quem? – Perguntou Emmett, de volta ao guião.
- O meu colega de laboratório disse que era algum rapaz chamado Cheney. Não tenho a certeza se o conheço.
Mordi os meus lábios para não sorrir. Apenas os “poderosos” Cullen poderiam convencer alguém com esse fingimento de não conhecer cada aluno desta escola minúscula.
A cabeça de Ben estava a girar com o choque. Eu? Acima de Edward Cullen? Mas por que é que ela haveria de gostar de mim?
- Edward - Murmurou Emmett num tom baixo, a revirar os olhos na direcção do rapaz - Ele está mesmo atrás de ti - Mexeu os lábios, de uma maneira tão óbvia que o humano facilmente podia ler as palavras.
- Oh - Murmurei.
Virei-me no meu assento e olhei uma vez para o rapaz atrás de mim. Durante um segundo, os olhos negros atrás dos óculos tiveram medo, mas depois pôs-se numa posição rígida e alinhou os seus ombros estreitos, afrontado pela minha clara e depreciativa avaliação. O seu queixo projectou-se e uma vermelhidão de raiva escureceu a sua pele bronzeada.
- Huh – Disse eu arrogantemente enquanto me voltava para Emmett.
Ele pensa que é melhor que eu. Mas a Angela não. Eu vou mostrar-lhe...
Perfeito.
- Mas não disseste que ela ia levar o Yorkie ao Baile? - Perguntou Emmett, a roncar ao dizer o nome do rapaz que tantos achavam que era estranho.
- Aparentemente essa foi uma decisão de grupo - Eu queria ter a certeza de que Ben estava a ouvir claramente – A Angela é tímida. Se o B… Bem, se um rapaz não tiver coragem para lhe convidar para sair, ela nunca lhe irá perguntar.
- Tu gostas de raparigas tímidas - Disse Emmett, de volta aos improvisos – Raparigas calmas. Raparigas como… hum, não sei. Talvez Bella Swan?
Sorri-lhe – Exactamente - Depois voltei para a encenação – Talvez a Angela se canse de esperar. Talvez a convide para o baile.
Não, não convidas. Pensou Ben, a endireitar-se na sua cadeira. E então que ela seja mais alta que eu? Se ela não se importa, eu também não. Ela é a rapariga mais simpática, mais esperta e mais bonita desta escola. E ela quer-me a mim.
Gostei deste Ben. Ele parecia claro e bem esclarecido. Talvez até merecesse uma rapariga como a Angela.
Fiz um polegar para cima ao Emmett por debaixo da carteira enquanto a Sra. Goff parou e saudou a turma.
Ok, eu admito, aquilo foi um tanto engraçado. Pensou Emmett.
Sorri para mim mesmo, feliz por ter sido capaz de moldar o final feliz de uma história de amor. Eu tinha a certeza que Ben ia cair na armadilha e que Angela iria receber o meu presente anónimo. A minha dívida foi paga.
Que tolos eram os humanos, deixar que uma diferença de 15 centímetros confundisse a sua felicidade.
O meu sucesso deixou-me de bom humor. Sorri novamente enquanto me ajeitava na cadeira para ser entretido. Afinal de contas, como Bella referiu ao almoço, eu nunca a tinha visto em acção numa aula de educação física antes.
Os pensamentos de Mike eram os mais fáceis de encontrar no burburinho de vozes que andavam pelo ginásio. A sua mente tinha-se tornado demasiado familiar nas últimas semanas. Com um suspiro, percebi que ia ouvir através dele. Pelo menos podia ter a certeza que ele estaria a prestar atenção a Bella.
Estava mesmo a tempo de ouvi-lo a oferecer-se para fazer de parceiro de Bella. Enquanto ele fazia a sugestão, outras parcerias passaram pela mente dele. O meu sorriso desapareceu, os meus dentes cerraram-se e eu tive que me lembrar que matar Mike Newton não era uma opção permitida
- Obrigada Mike. Sabes que não tens de fazer isto.
- Não te preocupes, eu não te atrapalho.
Sorriram um para o outro, e flashes de numerosos acidentes, todos ligados a Bella de alguma forma, passaram pela cabeça de Mike.
Primeiramente Mike jogou sozinho, enquanto Bella hesitava na última metade do campo, a segurar cautelosamente na sua raquete, como se fosse alguma espécie de arma. Então o treinador bateu palmas enquanto caminhava e disse a Mike para deixar Bella jogar.
Oh não. Pensou Mike enquanto Bella caminhava com um suspiro, a segurar a sua raquete num ângulo estranho.
Jennifer Ford serviu o volante directamente na direcção de Bella com uma satisfação convencida a rondar os seus pensamentos. Mike viu Bella a dar uma guinada, batendo a raquete muito longe do seu alvo, e ele entrou para tentar salvar a jogada.
Eu observei a trajectória da raquete de Bella com preocupação. De certeza que ela tinha acertado na rede esticada, e agora a raquete estava a voltar na direcção dela, e bateu na testa de Bella antes de atingir o braço de Mike com um ressonante “thwack”.
Au. Au. Uhm. Isto vai deixar um hematoma.
Bella estava a esfregar a sua testa. Era difícil para mim ficar parando no lugar onde estava, sabendo que ela estava magoada. Mas o que poderia eu fazer se estivesse lá? E não parecia ser algo sério… eu hesitei, a assistir. Se ela tentasse continuar a jogar, eu teria que arranjar uma desculpa para a ir tirar da aula.
O treinador riu-se. “Desculpa, Newton.”. Esta rapariga tem a pior má sorte que eu já vi. Não a devia infligir aos outros...
Ele virou-se de costas deliberadamente e moveu-se para assistir a outro jogo para que Bella pudesse voltar ao seu lugar de espectadora.
Au. Pensou Mike de novo, a massajar o braço. Virou-se para Bella – Estás bem?
- Sim, e tu estás? - Perguntou timidamente, a corar.
- Acho que aguento - Não quero parecer um bebé chorão. Mas, bolas, aquela doeu!
- Eu fico aqui atrás - Disse Bella, vergonha e desgosto na sua expressão em vez de dor. Talvez Mike tivesse tido o pior daquilo. Esperei que fosse esse o caso. Ao menos ela não estava a jogar mais. Ela segurava a raqueta atrás das costas, os seus olhos cheios de remorsos… Tive que disfarçar o meu riso com tosse.
O que é que tem piada? - Quis saber Emmet quis saber.
- Digo-te depois - Murmurei.
Bella não se aventurou a jogar de novo. O treinador ignorou-a e deixou o Mike jogar sozinho.
Fiz o questionário rapidamente no final da hora, e Sra. Goff deixou-me sair mais cedo. Eu estava a ouvir intencionalmente Mike enquanto passava pelo recreio. Ele tinha decidido confrontar Bella a meu respeito.
A Jessica jura que eles estão a andar. Porquê? Por que é que ele teve que a escolher?
Ele não tinha reconhecido o fenómeno real, que foi ela que me escolheu.
- Então.
- Então o quê? – Perguntou ela.
- Tu e o Cullen, hã? - Tu e a aberração. Suponho que, se um rapaz rico é assim tão importante para ti…
Cerrei os dentes àquela degradante suposição.
- Isso não te diz respeito Mike.
Defensiva. Então é verdade. Bolas. – Não me agrada.
- Não tem de te agradas – Disse bruscamente.
Por que é que ela não consegue ver o espectáculo de circo que ele é? Como eles são todos. A maneira como ele olha para ela. Dá-me arrepios só de ver – Ele olha-te como… como se fosses algo de comer.
Eu encolhi-me, à espera da resposta dela.
O seu rosto ficou vermelho brilhante, e os lábios fecharam-se com força, como se estivesse a suster a respiração. Então, subitamente, um risinho saiu dos seus lábios.
Agora está a rir-se de mim. Óptimo.
Mike virou-se, com mau humor, e foi-se embora para trocar de roupa.
Encostei-me contra a parede do ginásio e tentei recompor-me.
Como é que ela se podia ter rido da acusação de Mike? Uma acusação tão acertada que comecei a pensar se Forks já tinha percebido demasiado… Por que é que se rira da acusação de que eu a podia matar, quando ela sabia que isso era inteiramente verdade? Onde é que estava o humor nisso?
O que é que havia de errado com ela?
Será que tinha um sentido de humor mórbido? Isso não se encaixava na ideia que eu tinha do seu carácter, mas como poderia eu ter a certeza? Ou talvez o meu “sonho” do anjo perturbador estava correcto numa coisa, que ela não tinha medo nenhum. Corajosa, essa era uma palavra para isso. Outros poderiam dizer estúpida, mas eu sabia o quanto inteligente ela era. Mas independentemente da razão, esta falta de medo ou o retorcido sentido de humor não era bom para ela. Seria esta estranha falta de medo que a colocava em perigo tão constantemente? Talvez ela precisasse sempre de mim aqui…
Só com isso, o meu humor já estava a flutuar.
Se eu conseguisse simplesmente disciplinar-me, tornar-me seguro, então talvez fosse certo para mim ficar com ela.
Quando ela passou pelas portas do ginásio, os seus ombros estavam firmes e o seu lábio inferior estava entre os dentes outra vez: um sinal de ansiedade. Mas assim que os olhos dela encontraram os meus, os seus ombros rígidos relaxaram e um largo sorriso apareceu no seu rosto. Era uma estranha expressão pacífica. Ela caminhou para o meu lado sem hesitar, apenas parando quando estava perto o suficiente para que a temperatura do seu corpo batesse em mim como uma onda de maré.
- Olá - Sussurrou.
A felicidade que senti neste momento era, novamente, sem precedentes.
- Olá – Disse. E depois, porque com o meu humor subitamente tão leve eu não conseguia resistir em meter-me com ela, adicionei – Como correu a aula de Educação Física?
O seu sorriso hesitou – Correu bem.
Ela era uma péssima mentirosa.
- Deveras? - Perguntei, a pressionar o assunto. Eu ainda estava preocupado com a sua cabeça. Será que estava com dores? Mas então os pensamentos de Mike Newton estavam tão altos que quebraram a minha concentração.
Odeio-o. Quem me dera que ele morresse. Espero que conduza aquele carro brilhante directamente para u precipício. Por que é que ele não pôde simplesmente deixá-la em paz? Limitar-se a ficar com os do tipo dele, as aberrações.
- O que foi? – Exigiu saber Bella.
Os meus olhos voltaram a focar-se no seu rosto. Ela olhou para as costas de Mike e depois para mim.
- O Newton está a irritar-me - Admiti.
A boca dela abriu-se, e o sorriso desapareceu. Ela devia ter-se esquecido que eu tinha o poder de assistir à sua desastrosa última hora, ou tinha esperança de que eu não o tivesse utilizado – Não estiveste a escutar novamente?
- Como está a tua cabeça?
- És incrível! – Disse ela através dos dentes, e depois virou-me as costas e passou furiosamente pelo estacionamento. A sua pele estava vermelha escura, tal era a vergonha.
Acompanhei o passo dela, esperando que a sua raiva passasse rápido. Normalmente ela era rápida a perdoar-me.
- Foste tu que referiste que eu nunca te vira na aula de Educação Física – Expliquei – Fiquei curioso.
Ela não respondeu, as suas sobrancelhas estavam juntas.
Parou subitamente no estacionamento quando percebeu que o caminho para o meu carro estava bloqueado por uma multidão de estudantes do sexo masculino.
Até que velocidade já terão ido com esta coisa…
Vejam só as mudanças SMG. Nunca tinha visto destas fora das páginas de revista.
Belas grelhas...
Quem me dera ter por aí 60 mil dólares…
Este era exactamente o motivo pelo qual era melhor para Rosalie usar o carro só fora da cidade.
Passei pela multidão de rapazes excitados até ao meu carro. Depois de um segundo de hesitação, Bella seguiu-me.
- Ostentoso - Murmurei enquanto ela entrava no carro.
- De que carro se trata? - Perguntou.
- É um M3.
Fez uma careta – Não falo o dialecto “automobilês”.
- É um BMW – Revirei os olhos e concentrei-me em sair dali sem passar por cima de ninguém. Tive que olhar fixamente para alguns rapazes que não pareciam querer sair do meu caminho. Meio segundo a encarar o meu olhar pareceu ser o suficiente para convencê-los.
- Ainda estás zangada? – Perguntei-lhe. A sua expressão tinha relaxado.
- Sem dúvida - Respondeu brevemente.
Suspirei. Talvez eu não devesse ter trazido este assunto. Oh, bom, podia tentar emendar-me, supus – Perdoas-me se eu te pedir desculpa?
Ela pensou nisso por um momento – Talvez… se o fizeres com sentimento – Decidiu – E também se prometeres não repetir.
Eu não lhe ia mentir, mas não ia mesmo concordar com aquilo. Talvez se eu oferecesse uma boa troca.
- E se eu o fizer com sentimento e, além disso, concordar em deixar-te conduzir no sábado? – Contraí-me com o pensamento daquilo.
A ruga entre os seus olhos apareceu enquanto ela considerava a nova proposta – Combinado – Disse, depois de um momento a pensar.
Agora para as minhas desculpas… eu nunca tinha tentado deslumbrar a Bella de propósito antes, mas agora parecia ser uma boa altura. Olhei profundamente para os seus olhos enquanto conduzia para longe da escola, a questionar-me se o estava a fazer correctamente. Usei o meu tom mais persuasivo.
- Então lamento muito ter-te aborrecido.
O seu batimento cardíaco acelerou e ficou mais alto que antes. Os olhos dela estavam bem abertos, parecendo atordoados.
Fiz um meio sorriso. Parece que tinha acertado. É claro que eu também estava com alguma dificuldade em desviar o olhar. Eu estava igualmente deslumbrado. Ainda bem que tinha esta estrada memorizada.
- E estarei à porta de tua casa no sábado de manhã, bem cedo - Adicionei, finalizando o acordo.
Ela piscou os olhos rapidamente, a balançar a cabeça como se para se concentrar – Hum – Disse ela – No que se refere à questão de Charlie, não ajuda muito que um Volvo seja inexplicavelmente abandonado na entrada.
Ah, tão pouco que ela ainda me conhecia – Não tencionava ir de carro.
- Como é que… - Começou a perguntar.
Eu interrompi-a. A resposta seria difícil de explicar sem uma demonstração, e agora não era o momento certo – Não te preocupes. Eu lá estarei, sem carro.
Inclinou a cabeça, e pareceu por um segundo que me ia pressionar para saber mais, mas depois pareceu mudar de ideias.
- Já é depois? - Perguntou, a lembrar-me da conversa inacabada do refeitório hoje. Ela tinha desistido de uma pergunta difícil para se lembrar de outra pior.
- Suponho que já é depois – Concordei sem vontade.
Estacionei em frente da casa dela, a ficar tenso enquanto pensava em como explicar… sem deixar muito evidente a minha natureza monstruosa, sem a assustar novamente. Ou isso era errado? Minimizar as minhas coisas obscuras?
Ela esperou com a mesma máscara educadamente interessada que tinha usado ao almoço. Se eu estivesse menos ansioso, aquela calma dela ter-me-ia feito rir.
- E tu ainda queres saber porque é que não me podes ver caçar? – Perguntei.
- Bem, estava sobretudo a interrogar-me a respeito da tua reacção – Disse ela.
- Assustei-te? - Perguntei, certo de que ela negaria.
- Não.
Tentei não sorrir. E falhei – Peço desculpa por te ter assustado - E depois o meu sorriso desfez-se com o humor momentâneo – Deveu-se apenas à mera ideia de tu estares presente enquanto eu caçava.
- Seria mau?
A figura mental era demasiado: Bella, tão vulnerável na escuridão vazia. Eu, fora de controlo... Tentei banir aquilo da minha cabeça – Muito.
- Porque…
Respirei fundo, concentrando-me por um momento na sede que queimava. Sentindo-a, lidando com ela, a provar a minha dominação sobre ela. Ela nunca me iria controlar de novo (a sede). Eu desejei que isso fosse verdade. Eu seria seguro para Bella. Olhei para as nuvens sem realmente as ver, e desejei que a minha determinação fizesse alguma diferença se eu estivesse a caçar quando sentisse o seu cheiro.
- Quando nós caçamos, entregamo-nos aos nossos sentidos – Disse-lhe, a pensar em cada palavra antes de a dizer – Regemo-nos menos pela nossa cabeça. Sobretudo ao sentido do olfacto. Se estivesses perto de mim quando eu perdesse o controlo dessa forma…
Abanei a minha cabeça com agonia com o pensamento do que iria - não no que podia, mas no que iria - certamente acontecer nessa altura.
Ouvi a falha no seu batimento cardíaco, e depois virei-me, inquieto, para ler os seus olhos.
A cara de Bella estava controlada, os seus olhos graves. A boca estava ligeiramente cerrada fechada, no que eu supus ser preocupação. Mas preocupação com o quê? Com a sua própria segurança? Ou a minha angústia? Continuei a olhar para ela, a tentar traduzir a sua expressão ambígua num facto concreto.
Ela também olhou para mim. Os seus olhos ficaram maiores por um momento e as pupilas dilataram-se, embora a luz não tivesse mudado.
A minha respiração acelerou e, de repente, o silêncio no carro parecia estar a transformar-se, como na sala de biologia escura esta tarde. A corrente eléctrica passou entre nós novamente, e meu desejo de lhe tocar era mais forte do que as exigências da minha própria sede.
Aquela electricidade fez-me sentir como se eu tivesse pulsação outra vez. O meu corpo cantou com aquilo. Como se eu fosse humano. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu queria sentir o calor dos lábios dela contra os meus. Por um segundo, eu lutei desesperadamente para encontrar a força, o controlo, para ser capaz de colocar a minha boca tão perto da sua pele…
Ela inspirou irregularmente, e só aí é que eu percebi que quando a minha respiração acelerou, a dela tinha parado.
Fechei os meus olhos, a tentar quebrar a conexão entre nós.
Sem mais erros.
A existência de Bella estava ligada a milhões de delicados processos químicos, todos tão facilmente rompidos. A expansão rítmica dos seus pulmões, a passagem de oxigénio, era vida ou morte para ela. A cadência agitada do seu coração frágil podia ser parada por tantos acidentes estúpidos, ou doenças, ou… por mim.
Não acreditava que algum membro da minha família hesitasse se lhes fosse dada a oportunidade de voltar atrás, se ele ou ela pudesse trocar a imortalidade pela mortalidade de novo. Qualquer um de nós faria qualquer coisa por isso.
A maioria da nossa espécie prezava a imortalidade mais do que qualquer coisa. Até existiam humanos que desejavam isto, que procuravam nos lugares escuros alguém que lhes pudesse dar o mais sombrio dos presentes…
Nós não. Não a minha família. Nós trocaríamos qualquer coisa para ser humanos.
Mas nenhum de nós esteve tão desesperado por um caminho de volta como eu estava agora.
Olhei para as microscópicas manchas e falhas do pára-brisas, como se houvesse alguma solução escondida no vidro. A electricidade não tinha desaparecido, e eu tive que me concentrar para manter as mãos no volante.
A minha mão direita voltou a ter picadas sem dor de novo, de quando eu lhe tinha tocado antes.
- Bella, penso que devias entrar agora.
Ela obedeceu à primeira, sem comentar, a sair do carro e a bater a porta atrás dela. Será que ela tinha sentido o potencial desastre tão claramente como eu?
Será que sair a magoou, como para mim me magoou deixá-la ir? O único consolo é que eu a veria em breve. Antes de ela me ver a mim. Sorri ao pensar nisso, e depois desci o vidro e inclinei-me para falar com ela mais uma vez. Agora era mais seguro, com o calor do seu corpo fora do carro.
Ela virou-se para ver o que eu queria, curiosa.
Ainda curiosa, apesar de me ter feito tantas perguntas hoje. A minha própria curiosidade estava inteiramente insatisfeita: responder às perguntas dela hoje só tinha revelado os meus segredos. Eu tinha-lhe tirado pouco para as minhas próprias suposições. Isso não era justo.
- Oh Bella!
- Sim?
- Amanhã é a minha vez.
A testa dela enrugou-se – A tua vez de quê?
- De fazer as perguntas - Amanhã, quando estivéssemos num lugar mais seguro, cercado por testemunhas, eu iria conseguir as minhas próprias respostas. Sorri com esse pensamento, e depois virei-me, porque ela não fez sinal de se afastar. Mesmo com ela fora do carro, o eco da electricidade ainda se movia no ar. Eu também queria sair, para a acompanhar à porta como uma desculpa para ficar ao pé dela.
Sem mais erros. Liguei o carro e depois suspirei enquanto ela desaparecia atrás de mim. Parecia sempre que eu estava ou a correr em direcção a Bella, ou a fugir dela, nunca ficava no meu lugar. Tinha que encontrar alguma maneira de me estabilizar se algum dia fossemos ter algum tipo de paz.


Desculpem pelo atraso! Como se não me tivesse bastado o teste na semana passada, agora estou doente! Mas consegui acabar de traduzir =D
É verdade, acabou! Isto é tudo o que está disponível por agora. A única coisa que podemos fazer neste momento é esperar que a Stephenie publique o resto.

Foi um prazer, muito obrigada por todos os comentários, surpreenderam-me a valer!
Boas leituras, e não se esqueçam de passar o blog a outros fãs que conheçam a história.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

11º Capítulo

11. Interrogações

A CNN foi a primeira a trazer a história.
Estava contente por as notícias terem saído antes de eu ir para a escola, ansioso por ouvir como é que os humanos iam descrever o acontecimento, e quanta atenção lhe iam dar.
Felizmente, este era um dia pesado para as notícias. Tinha havido um terramoto na América do Sul e um rapto político numa zona que combina África e Ásia. Portanto durou apenas alguns segundos, algumas frases, e uma foto desfocada.
“Alonzo Calderas Wallace, suspeito de assassínios e violações em série procurado nos estados do Texas e Oklahoma, foi apreendido a noite passada em Portland, Oregon agradece a uma pista anónima. Wallace foi encontrado inconsciente numa rua esta manhã, apenas a alguns metros da esquadra da polícia. Neste ponto, os agentes são incapazes de nos dizer se ele vai ser extraditado para Houston ou Oklahoma para aguardar até ao julgamento ”
A fotografia não era clara, uma foto de cadastro, e ele tinha uma barba grossa na altura da fotografia. Mesmo que Bella o visse, provavelmente não o iria reconhecer. Esperava que não reconhecesse, isso só a ia deixar com medo desnecessariamente.
- A cobertura aqui na cidade vai ser ligeira. É demasiado para ser considerado de interesse local – Disse-me Alice – Foi uma boa ideia Carlisle levá-lo para fora do estado.
Acenei. De qualquer das maneiras Bella não via muita televisão, e eu nunca tinha visto o seu pai a assistir a outra coisa que não canais de desporto.
Fiz o que pude. Este monstro já não assombrava, e eu não era um assassino. Não recentemente de qualquer das maneiras. Fiz bem em confiar em Carlisle, por mais que eu desejasse que aquele monstro não se safasse tão levemente. Apanhei-me a desejar que ele fosse extraditado para o Texas, onde a pena de morte era tão popular…
Não. Aquilo não importava. Ia por isto atrás de mim, e concentrar-me no que era mais importante.
Tinha deixado o quarto de Bella à menos de uma hora. E já estava a morrer para a ver outra vez.
- Alice importas-te de…
Ela cortou-me a palavra – A Rosalie conduz. Vai agir como se estivesse irritada, mas tu sabes que ela vai adorar uma desculpa para exibir o carro – E Alice riu-se.
Sorri-lhe – Vejo-te na escola.
Ela suspirou, e o meu sorriso tornou-se numa expressão de desagrado.
Eu sei, eu sei – Pensou ela – Ainda não. Eu espero até que estejas preparado para que a Bella me conheça. Mas devias saber, isto não é só para eu ser egoísta, A Bella também vai gostar de mim.
Não lhe respondi enquanto me despachava para a porta. Aquilo era uma maneira diferente de ver a situação. Quereria Bella conhecer a Alice? Ter uma vampira para amiga?
Conhecendo Bella… aquela ideia provavelmente não a incomodaria nem um bocadinho.
Enruguei a testa para mim mesmo. O que Bella queria e o que era melhor para ela eram duas coisas separadas.
Comecei a sentir-me nervoso enquanto estacionava o meu carro na entrada de casa de Bella. O provérbio humano dizia que as coisas pareciam diferentes de manhã, que as coisas mudavam quando se dormia sobre elas. Será que Bella me ia ver de forma diferente nesta luz fraca de um dia enublado? Mais sinistro ou menos sinistro do que na escuridão da noite? Será que a verdade a tinha atingido enquanto ela dormia? Iria finalmente ter medo?
Mas os seus sonhos tinham sido pacíficos na noite passada. Quando disse o meu nome, vezes e vezes sem conta, sorriu. Mais do que uma vez murmurou um pedido para eu ficar. O que é que isso ia significar hoje?
Esperei nervosamente, a ouvir os sons dela dentro de casa, os rápidos e desastrados passos nas escadas, o rasgar de um papel de alumínio, os frascos do frigorífico a baterem um contra os outros quando fechou a porta. Parecia que ela estava com pressa. Ansiosa para chegar à escola? Esse pensamento fez-me sorrir, esperançoso outra vez.
Olhei para o relógio. Supus que, levando em conta a velocidade a que a carrinha a limitava, ela estava um bocadinho atrasada.
Bella despachou-se a sair de casa, a mala a escorregar do seu ombro, o seu cabelo preso numa trança confusa que já se estava a desfazer no pescoço. A camisola grossa e verde que vestia não era o suficiente para que os seus ombros magros tremessem contra o nevoeiro gelado.
A camisola era demasiado grande para ela, não a favorecia. Mascarava a sua figura delgada, tornando todas as tuas curvas delicadas e linhas leves numa desordenada sem formas. Apreciei isto quase tanto como desejei que ela tivesse vestido algo mais parecido com a camisa azul que tinha vestido na noite passada. O tecido assentava na pele dela de uma maneira tão apelativa, cortada o suficiente para relevar a maneira fantástica como a sua clavícula subia desde a base da sua garganta. O azul tinha deslizado como água ao longo da silhueta subtil do seu corpo…
Era melhor, essencial, que eu mantivesse os meus pensamentos longe, muito longe daquela forma, por isso estava grato pela aquela camisola que ela vestia hoje. Não me podia dar ao luxo de cometer mais erros, e seria um erro monumental deixar-me levar pela estranha vontade de pensar nos lábios… na sua pele… o seu corpo… esses pensamentos estavam a libertar-se dentro de mim. Vontades que eu tinha evitado durante cem anos. Mas eu não me podia permitir a pensar tocar-lhe, porque isso era impossível.
Eu destruí-la-ia.
Bella voltou-se para longe da porta com tal pressa que quase passou pelo meu carro sem reparar nele.
Depois parou quase a derrapar, os seus joelhos travaram-na num solavanco. A mochila dela escorregou pelo braço, e os seus olhos arregalaram-se enquanto se focavam no carro.
Eu saí, sem me preocupar em mover-me numa velocidade humana, e abri a porta de passageiro para ela. Eu não ia tentar enganá-la mais. Quando estivéssemos a sós, pelo menos, seria eu próprio.
Ela olhou para mim, surpreendida novamente, enquanto eu saía subitamente do nevoeiro.
Então a surpresa nos seus olhos mudaram para outra coisa, e eu já não tinha medo, ou esperança, que os sentimentos dela por mim tivessem mudado durante a noite. Calor, maravilha, fascinação, tudo a nadar no chocolate derretido dos seus olhos.
- Queres ir comigo hoje? – Perguntei - Ao contrário do jantar da noite passada, eu ia deixá-la escolher. De agora em diante, seria sempre a escolha dela.
- Quero, obrigada - Murmurou, a entrar no carro sem hesitação.
Será que algum dia eu deixaria de me surpreender pelo facto de eu ser aquele a quem ela disse “sim”? Duvidava.
Dei rapidamente a volta ao carro, ansioso para me juntar a ela. Ela não mostrou nenhum sinal de surpresa com a minha súbita reaparição.
A felicidade que senti quando ela se sentou ao meu lado desta maneira não tinha precedentes. Por mais que eu apreciasse o amor e companheirismo da minha família, apesar dos vários entretenimentos e distracções que o mundo tinha a oferecer, eu nunca tinha estado feliz desta forma. Mesmo sabendo isto era errado, que não podia possivelmente acabar bem, não consegui evitar o sorriso na minha cara durante muito tempo.
O meu casaco estava dobrado em cima do apoio para a cabeça do banco dela. Vi-a a olhar para ele.
- Trouxe o casaco para ti – Disse-lhe. Esta era minha desculpa, eu tinha que arranjar uma para aparecer aqui esta manhã sem ter sido convidado. Estava frio. Ela não tinha casaco. De certeza que esta era uma forma convincente de cavalheirismo – Não queria que ficasses doente ou isso.
- Não sou assim tão delicada – Disse ela, a olhar para o meu peito em vez de para a minha cara, como se estivesse hesitante em olhar-me nos olhos. Mas ela vestiu o casaco antes que eu tivesse de recorrer à persuasão.
- Ai não? - Sussurrei para mim mesmo.
Ela olhava para a estrada enquanto eu acelerava para a escola. Eu só consegui aguentar o silêncio por alguns segundos. Eu tinha que saber quais eram os seus pensamentos esta manhã. Tanta coisa tinha mudado entre nós desde o último dia em que esteve sol.
- Então, hoje não tens duas dezenas de perguntas para me fazer? - Perguntei, mantendo as coisas ligeiras outra vez.
Ela sorriu, parecendo feliz por eu ter abordado o assunto – As minhas perguntas incomodam-te?
- Não tanto como as tuas reacções – Disse-lhe honestamente, a sorrir em resposta ao seu sorriso.
A sua boca descaiu para baixo – Eu reajo mal?
- Não, o problema é esse. Encaras tudo com tanta frieza, não é natural. Faz com que me interrogue sobre o que estás realmente a pensar – Claro, tudo o que ela fazia ou não fazia levava-me a interrogar.
- Eu digo-te sempre o que realmente penso.
- És selectiva.
Os seus dentes pressionaram o lábio novamente. Ela parecia não reparar quando fazia isto, era uma resposta inconsciente à tensão – Não muito.
Só aquelas palavras foram suficientes para despertar a minha curiosidade. O que é que ela me escondia propositadamente?
- O suficiente para dar comigo em doido – Disse-lhe.
Ela hesitou, e depois sussurrou – Tu não queres ouvir o que penso.
Eu tive que pensar por um momento, analisar a nossa conversa inteira da noite passada, palavra por palavra, antes de fazer a associação. Talvez me tivesse levado tanta concentração porque eu não imaginava nada que eu não quisesse que ela me dissesse. E aí, por causa do tom de voz ser o mesmo da noite passada, subitamente com dor, eu lembrei-me. Uma vez eu pedi-lhe para não me dizer o que estava a pensar. Nunca digas isso. Eu tinha-a feito chorar…
Era isto que ela escondia de mim? A profundidade dos seus sentimentos em relação a mim? Que eu ser um monstro não tinha importância para ela, e que pensava que era demasiado tarde para ela mudar de ideias?
Fui incapaz de falar, porque a alegria e a dor eram demasiado intensas para palavras, o conflito entre elas era demasiado selvagem para permitir uma resposta coerente. Estava silêncio no carro, excepto o ritmo estável do seu coração e pulmões.
- Onde está o resto da tua família? - Perguntou repentinamente.
Respirei fundo, registando o cheiro no carro com uma verdadeira dor pela primeira vez, estava-me a habituar a isto, percebi com satisfação, e forcei-me a ser casual de novo.
- Veio no carro de Rosalie – Estacionei no lugar vago ao pé do carro em questão. Escondi o meu sorriso quando vi os olhos dela a arregalarem-se – Ostentoso, não é?
- Hum, ena. Se ela tem aquela bomba, porque se desloca no teu carro?


Rosalie teria gostado da reacção de Bella… se estivesse a ser mais objectiva em relação a ela, o que provavelmente não iria acontecer.
- Como já te disse, é ostentoso. Nós tentamos passar despercebidos.
- Não conseguem – Disse ela, e depois riu-se descontraidamente.
A casualidade, a inteira descontracção no som do riso dela aqueceu o meu peito vazio, como também fez a minha cabeça nadar em dúvida.
- Porque é que Rosalie resolveu vir hoje a conduzir se dá mais nas vistas? - Perguntou.
- Ainda não tinhas reparado? Agora estou a quebrar todas as regras.
A minha resposta devia ter sido ligeiramente assustadora, portanto, é claro, Bella sorriu
Ela não esperou que eu lhe abrisse a porta, tal como na noite passada. Eu tinha que aparentar normalidade aqui na escola, portanto não me pude mover rápido o suficiente para impedir aquilo, mas ia ter que se habituar a ser tratada com mais cortesia, e habituar-se rapidamente.
Caminhei o mais perto dela quanto me atrevia, a olhar cuidadosamente para qualquer sinal de que minha proximidade a perturbasse. Por duas vezes a sua mão virou-se em direcção à minha, mas depois recuava-a. Parecia que ela me queria tocar… A minha respiração acelerou.
- Porque é que têm carros como aquele se estão à procura de privacidade? – Perguntou-me enquanto caminhávamos.
- É uma forma de satisfazermos uma das nossas vontades - Admiti – Todos nós gostamos de conduzir com velocidade.
- Já era de calcular – Murmurou amargamente.
Ela não olhou para cima para ver o sorriso que ia dar como resposta.
Nuh-uh! Eu não acredito nisto! Como é que Bella conseguiu arranjar isto? Eu não entendo! Porquê?
A mente de Jessica interrompeu os meus pensamentos. Ela estava à espera de Bella, refugiando-se da chuva por baixo da aba do telhado do refeitório, com o casaco de inverno de Bella por cima do seu braço. Os seus olhos estavam arregalados com descrença.
Bella também reparou nela, no momento seguinte. Um fraco tom rosado tocou na sua face quando Bella registou a expressão de Jessica. Os pensamentos de Jessica estavam nitidamente claros na sua cara.
- Olá Jessica, obrigada por te teres lembrado – Agradeceu Bella. Dirigiu-se para o casaco e Jessica entregou-o sem dizer nenhuma palavra.
Eu devia ser educado com os amigos de Bella, quer fossem bons amigos ou não – Bom dia Jessica.
Uau…
Os olhos de Jessica abriram-se ainda mais. Foi estranho e divertido… e honestamente, um bocado embaraçoso… perceber como estar perto de Bella me deixava mais suave. Parecia que já ninguém tinha medo de mim. Se Emmett descobrisse isto, ia rir-se durante o próximo século.
- Ah, viva! - Murmurou Jessica, e os seus olhos desviaram-se para o rosto de Bella, cheios de significados – Suponho que nos vemos na aula de Trigonometria.
Tu vais completamente desembuchar tudo. Não vou aceitar um não como resposta. Detalhes. Eu tenho que ter detalhes! Edward CULLEN bolas! A vida é tão injusta.
A boca de Bella torceu-se – Sim, vemo-nos lá.
Os pensamentos de Jessica ficaram fora de controlo enquanto corria para a sua primeira aula, a espreitar-nos de vez em quando.
A história inteira. Não vou aceitar nada menos que isso. Combinaram encontrar-se a noite passada? Estão a namorar? Há quanto tempo? Como é que ela conseguiu guardar segredo sobre isto? Por que é que guardaria? Não pode ser uma coisa casual, ela tem que estar bem caidinha por ele. Há alguma outra opção? Eu vou descobrir. Não suporto não saber de nada. Será que ela já curtiu com ele? Oh meu… Os pensamentos de Jessica foram repentinamente desconectados, e ela deixou que as suas fantasias mudas girassem pela sua cabeça. Eu encolhi-me com as especulações dela, e não só porque ela tinha trocado Bella por ela mesma nas figuras mentais.
Eu não podia ser assim. Mas mesmo assim, eu… eu queria…
Resisti em admitir aquilo, mesmo a mim próprio. Em quantas maneiras erradas eu queria colocar a Bella? Qual delas iria acabar por a matar?
Sacudi a cabeça e tentei soltar-me um bocado.
- Que vais dizer-lhe? – Perguntei a Bella.
- Eh! - Sussurrou ferozmente – Pensei que não conseguias adivinhar os meus pensamentos!
- E não consigo – Olhei fixamente para ela, surpreendido, a tentar que as suas palavras fizessem sentido. Ah, devíamos ter estado a pensar a mesma coisa ao mesmo tempo. Hum, gostei disso – No entanto, consigo adivinhar os dela. Ela vai estar à espera para te atacar de surpresa na aula.
Bella gemeu, e deixou o casaco escorregar pelos ombros. A princípio não percebi que ela mo estava a devolver. Eu não o teria pedido, preferia que ficasse com ele… uma lembrança. Por isso fui demasiado lento para oferecer a minha ajuda. Ela entregou-me o casaco e passou os braços pelo dela, sem olhar para cima para ver que minhas mãos estavam esticadas para ajudar. Fiz uma careta com isso, e depois controlei a minha expressão antes que ela notasse.
- Então, que vais dizer-lhe? - Pressionei.
- Que tal dares-me uma ajudinha? O que quer ela saber?
Eu sorri e abanei a cabeça. Eu queria ouvir o que ela estava a pensar sem nenhuma dica – Isso não é justo.
Os olhos dela ficaram mais estreitos – Não, o facto de tu não partilhares o que sabes, isso é que não é justo.
Certo, ela não gostava da dualidade de critérios.
Chegamos à porta da sala onde ela ia ter aula, onde eu a ia ter que deixar. Perguntei-me se a Menina Cope seria mais favorável numa mudança no horário da minha aula de inglês… Forcei a minha concentração. Eu podia ser justo.
- Ela quer saber se nós andamos a namorar às escondidas - Disse lentamente – E que saber o que sentes por mim.
Os olhos dela arregalaram-se, não surpreendidos, mas engenhosos. Estavam abertos para mim, legíveis. Ela estava a fazer-se de inocente.
- Ai, ai - Murmurou - O que devo dizer?
- Hum - Ela tentava sempre fazer com que eu revelasse mais do que ela. Pensei em como responder.
Uma madeixa rebelde do cabelo dela, ligeiramente húmida por causa do nevoeiro, caía pelo seu ombro e enrolava-se onde a sua clavícula estava escondida por aquela camisola ridícula. Atraiu os meus olhos… puxou-os ao longo das outras linhas escondidas…
Alcancei cuidadosamente aquele pedaço de cabelo, sem tocar na sua pele, a manhã já estava fria o suficiente sem o meu toque, e coloquei-o no sítio dele, na trança mal apertada, para que não me distraísse outra vez. Lembrei-me quando Mike Newton lhe tinha tocado no cabelo, e meu queixo cerrou-se com a memória. Ela tinha-se afastado dele na ocasião. A reacção dela agora não era nada parecida. Em vez disso, os seus olhos arregalaram-se, o sangue correu mais rápido nas veias dela e uma súbita aceleração no seu coração.
Tentei esconder o meu sorriso enquanto lhe respondi.
- Suponho que podias responder afirmativamente à primeira questão… se não te importares - A escolha era dela, sempre dela – É mais fácil do que dar qualquer outra explicação.
- Não me importo… - Sussurrou. O coração ainda não tinha encontrado o seu ritmo natural.
- E quanto à outra questão… - Não consegui esconder meu sorriso agora – Bem, ficarei à escuta para eu próprio ouvir a resposta.
Deixar Bella a considerar isso. Reprimi o meu riso enquanto o choque passava pelo rosto dela.
Virei-me rapidamente, antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa. Eu tinha uma certa dificuldade em não lhe dar o que quer que seja que ela queria. E eu queria ouvir os pensamentos dela, não os meus.
- Vemo-nos ao almoço – Disse-lhe por cima do ombro, uma desculpa para ver se ela ainda estava a olhar fixamente para mim, de olhos arregalados. A boca dela estava aberta. Virei-me outra vez e ri-me.
À medida que me afastava, estava vagamente ciente dos pensamentos chocados e especulativos que me rodeavam, olhos a balançarem-se para trás e para a frente entre a cara de Bella e a minha figura que se afastava. Prestei-lhes pouca atenção. Não me conseguia concentrar. Foi difícil o suficiente manter os meus pés a moverem-se numa velocidade aceitável enquanto passava a relva encharcada para minha próxima aula. Queria correr, correr mesmo, tão rápido que desapareceria, tão rápido que iria parecer que estava a voar. Parte de mim já estava a voar.
Vesti o casaco quando entrei na aula, deixando que a fragrância dela flutuasse à minha volta. Eu ia-me queimar agora, deixar que o cheiro me dessensibilizasse, para que depois fosse mais fácil ignorar, quando estivesse com ela de novo ao almoço…
Era uma coisa boa que os professores já não se dessem ao trabalho de me chamar. Hoje talvez tivesse sido o dia que me apanhassem desprevenido, e sem respostas. A minha cabeça estava em tantos lugares esta manhã, só o meu corpo é que estava na sala.
É claro que eu estava a vigiar Bella. Isso estava a tornar-se, tão automático como respirar. Ouvi a sua conversa com um Mike Newton desmoralizado. Ela mudou rapidamente a conversa para Jessica, e eu fiz um sorriso tão grande que Rob Sawyer, que estava sentado ao meu lado direito, se encolheu visivelmente e escorregou na cadeira, para longe de mim.
Argh. Assustador.
Bom, não tinha perdido completamente o toque.
Também estava a monitorizar levemente Jessica, a vê-la a escolher as suas perguntas para Bella. Eu mal conseguia esperar pelo quarto tempo, dez vezes mais desejoso e ansioso do que a curiosidade da rapariga humana que queria mexericos novos.
E também estava a ouvir Angela Weber.
Não me tinha esquecido da gratidão que tinha sentido por ela, primeiro por só pensar coisas boas a respeito de Bella e depois pela ajuda da noite passada. Então eu esperei ao longo da manhã, à procura de algo que ela quisesse. Achei que fosse fácil, como qualquer outro humano, devia haver alguma coisa bugiganga ou brinquedo que ela quisesse. Vários, provavelmente. Entregar-lhe-ia alguma coisa anonimamente e assim ficávamos quites.
Mas Angela provou ser quase tão contra oferecer ajuda com seus pensamentos quanto Bella. Ela era estranhamente contente para uma adolescente. Feliz. Talvez fosse aquela razão para a sua bondade pouco comum. Ela era uma daquelas pessoas raras que tinham o que queriam e queriam o que tinham. Se ela não estava a prestar atenção aos professores e às suas notas, estava a pensar nos irmãos gémeos que ia levar à praia naquele fim-de-semana, antecipando a excitação deles com um prazer quase maternal. Ela cuidava deles de vez em quando, mas não se sentia rancorosa por isso… era muito querido.
Mas não me ajudava muito.
Devia haver algo que ela quisesse. Eu só tinha que continuar a procurar. Mas depois. Agora estava na hora da aula de trigonometria de Bella com Jessica.
Não prestei atenção por onde estava a ir à medida que me dirigia para a aula de inglês. Jessica já estava no seu lugar, os dois pés a baterem impacientemente no chão enquanto esperava que Bella chegasse.
Pelo contrário, quando me sentei no meu lugar na sala de aula, fiquei completamente parado. Tinha que me lembrar de me mexer de vez em quando. Manter a fachada. Foi difícil, os meus pensamentos focados nos da Jessica. Esperei que ela prestasse atenção, que realmente tentasse ler o rosto de Bella por mim.
As batidas dos pés de Jessica intensificaram-se quando Bella entrou na sala.
Ela parece… melancólica. Porquê? Talvez não se passe nada entre ela e o Edward Cullen. Isso seria um desapontamento. Excepto que… então ele ainda estaria disponível… se estiver subitamente interessado em sair, eu não me importo em ajudá-lo com isso…
O rosto de Bella não parecia triste, parecia relutante. Ela estava preocupada, sabia que eu ia ouvir isto tudo. Sorri para mim mesmo.
- Conta-me tudo! – Exigiu Jess enquanto Bella ainda estava a tirar o casaco e a pendurá-lo nas costas da sua cadeira. Ela estava a mexer-se com deliberação, sem vontade.
Argh, ela é tão lenta. Vamos passar para as coisas interessantes!
- O que queres saber? – Perguntou enquanto se sentava.
- O que aconteceu na noite passada?
- Ele pagou-me o jantar e depois levou-me a casa.
E depois? Vá lá! Tem que haver mais do que isso! Ela está a mentir de qualquer das formas, eu sei disso.
- Como é que chegaste a casa tão depressa?
Vi Bella a revirar os olhos à suspeita de Jessica.
- Ele conduz como um louco. Foi apavorante.
Ela sorriu um bocado, e eu ri-me em voz alta, interrompendo os anúncios do Sr. Mason. Tentei transformar a gargalhada num acesso de tosse, mas não enganei ninguém. O Sr. Mason lançou-me um olhar irritado, mas eu nem me preocupei em ouvir o pensamento por trás daquilo. Estava a ouvir Jessica.
Huh. Parece que ela está a dizer a verdade. Por que é que ela me está a fazer arrancar tudo dela, palavra por palavra? Eu estaria a gabar-me em plenos pulmões se fosse comigo.
- Foi um encontro amoroso? Disseste-lhe para se encontrar contigo lá?
Jessica viu a surpresa a passar pela expressão de Bella, e ficou desapontada em como aquilo parecia genuíno.
- Não, fiquei muito espantada ao vê-lo lá – Disse-lhe Bella.
O que é que se passa?! – Mas ele foi buscar-te para te trazer à escola hoje? - Tem que haver mais qualquer coisa nesta história.
- Foi, isso também me espantou. Ela reparou que eu não tinha casaco na noite passada.
Isso não é muito divertido. Pensou Jessica, novamente desapontada.
Estava cansado da sua linha de perguntas. Eu queria ouvir algo que ainda não soubesse. Esperei que ela não estivesse tão descontente que saltasse as perguntas que eu estava à espera.
- Então vão sair novamente? - Perguntou Jessica.
- Ele ofereceu-se para me levar a Seattle no sábado, por pensar que a minha pick-up não está apta para fazer tal viagem, isso conta?
Hum… Ele está mesmo a fazer algumas coisas para… bem, cuidar dela, mais ao menos. Deve haver qualquer coisa no lado dele, senão do dela. Como é que ISSO pode ser? A Bella é doida.
- Sim – Respondeu Jessica à pergunta.
- Bem, então – Concluiu Bella – Vamos.
- Ena! O Edward Cullen – Quer ela goste dele ou não, isto é sério!
- Eu sei – Suspirou Bella.
O tom da voz dela encorajou Jessica. Finalmente, parece que ela entendeu! Ela deve perceber
- Espera! – Disse Jessica, lembrando-se subitamente da pergunta mais vital – Ele beijou-te? - Por favor diz que sim. E depois descreve cada segundo!
- Não – Balbuciou Bella, e depois olhou para as suas mãos, a sua cara a ficar com um aro desapontado – A nossa relação não é nada assim.
Raios. Eu gostava… AH! Parece que ela também gostava.
Franzi a testa. Bella parecia de facto chateada com alguma coisa, mas não podia ser desapontamento como Jessica assumia. Ela não podia querer aquilo. Sem Não sabendo o que ela sabia. Ela não podia querer estar assim tão perto dos meus dentes. Provavelmente ela até pensava que eu tinha presas.
Estremeci.
- Achas que no sábado… - Continuou Jessica.
Bella parecia ainda mais chateada enquanto disse – Tenho muitas dúvidas.
Yup, ela gostava. Que chato para ela.
Seria por eu estar a ver tudo isto pelas percepções de Jessica que parecia que ela tinha razão?
Por meio segundo eu distraí-me com a ideia, a impossibilidade, do que seria tentar beijá-la. Os meus lábios nos lábios dela. Pedra fria contra seda quente…
E depois ela morre.
Abanei a cabeça, encolhendo-me, e obriguei-me a prestar atenção.
- De que é que vocês falaram? – Falaste com ele, ou fizeste-o arrastar-se por cada pedaço de informação como agora?
Eu sorri. A Jessica não estava muito longe da verdade.
- Não sei Jess, de muita coisa. Falámos um pouco sobre a dissertação de Inglês.
Muito pouco. Abri ainda mais o meu sorriso.
Oh, VÁ LÁ! – Por favor Bella, dá-me alguns pormenores!
Bella deliberou por um momento.
- Bem… está bem, vou dar-te um. Devias ter visto a empregada de mesa a namoriscá-lo… foi de mais. Mas ele não lhe prestou nenhuma atenção.
Que detalhe estranho para partilhar. Eu estava surpreendido por Bella ter reparado sequer. Parecia uma coisa tão irrelevante.
Interessante… - Esse é um bom sinal, ela era bonita?
Hum, Jessica pensou mais naquilo do que eu. Devia ser uma coisa feminina.
- Muito. E devia ter dezanove ou vinte anos.
Jessica ficou momentaneamente distraída pela memória de Mike no encontro de segunda à noite. Mike a ser um bocadinho demasiado amigável com a empregada que Jessica não tinha considerado bonita de todo. Ela afastou a memória e voltou, oprimindo a sua irritação, para perguntar os detalhes.
- Ainda melhor. Ele deve gostar de ti.
- Julgo que sim – Disse Bella lentamente, e eu estava no limite da cadeira, o meu corpo rigidamente parado – Mas é difícil dizer. Ele é sempre tão reservado.
Eu não devia ter sido tão transparentemente óbvio e fora de controlo como pensava. Ainda assim… observadora como ela era… Como é que ainda não tinha reparado que eu estava apaixonado por ela? Passei pela nossa conversa, quase surpreendido por não ter dito as palavras em voz alta. Parecia que aquele facto estava subentendido em cada palavra entre nós.
Uau. Como é que te sentas em frente a um modelo masculino e conversas normalmente? – Não sei como tens coragem para ficar a sós com ele – Disse Jessica.
Choque passou pela cara de Bella – Porquê?
Reacção estranha. O que é que ela pensa a que eu me refiro? – Ele é tão… - Qual é a palavra certa? – Intimidador. Eu não saberia o que lhe dizer – Nem consegui falar Inglês com ele hoje, e tudo o que ele disse foi Bom Dia. Devo ter parecido tão idiota…
Bella sorriu – De facto tenho alguns problemas de incoerência quando estou perto dele.
Ela devia estar a fazer com que Jessica se sentisse melhor. Ela era quase anormalmente controlada quando estávamos juntos
- Oh bem - Suspirou Jessica – Ele é incrivelmente lindo.
O rosto de Bella ficou subitamente mais frio. Os seus olhos brilharam da mesma maneira que faziam quando ela sentia alguma injustiça. Jessica não percebeu a mudança na expressão dela.
- Ele é muito mais do que isso - Disse Bella bruscamente.
Aaah, agora estamos a chegar a algum lugar – A sério? O quê por exemplo?
Bella mordiscou o lábio por um momento – Não consigo explicar adequadamente – Disse finalmente – Mas ele é ainda mais incrível por trás do rosto - Desviou o olhar de Jessica, os seus olhos ligeiramente desfocados como se estivesse a olhar para algo muito longe.
O que senti agora era remotamente parecido ao que sentia quando Carlisle ou Esme me glorificavam mais do que eu merecia. Parecido, mas mais intenso, mais consumidor.
Conta essa a outra pessoa, não há nada melhor do que aquela cara! A não ser que seja o corpo. Uau – Isso é possível? – Deu uns risinhos.
Bella não se virou. Continuou a olhar para a distância, a ignorar Jessica.
Uma pessoa normal estaria triunfante. Talvez se eu mantivesse as perguntas simples. Ah ah. Como se estivesse a falar com alguém do jardim-de-infância – Então, gostas dele?
Fiquei rígido de novo.
Bella não olhou para Jessica – Sim.
- Quero dizer, gostas dele a sério?
- Sim,
Olha para ela a corar!
Estava a olhar.
- A que ponto gostas dele? – Exigiu Jessica.
A sala de inglês podia estar a arder que eu não teria reparado.
O rosto de Bella agora estava num vermelho vivo, quase conseguia sentir o calor da imagem mental.
- Gosto demasiado – Sussurrou Bella – Mais do que ele gosta de mim. Mas não vejo como evitá-lo.
Bolas! O que é que o Sr. Varner acabou de perguntar? - Hum, que número Sr. Varner?
Foi bom que Jessica não pudesse interrogar mais Bella. Eu precisava de um minuto.
Que diabos é que a rapariga estava a pensar agora? Mais do que ele gosta de mim? Como é que ela desencantou aquilo? Mas não vejo como evitá-lo? O que é que aquilo era suposto querer dizer? Não conseguia encontrar uma explicação racional para as palavras dela. Praticamente não tinham sentido.
Parecia que eu não podia levar nada como garantido. Coisas óbvias, coisas que faziam perfeito sentido, de alguma forma torciam-se e viravam-se ao contrário naquele cérebro bizarro dela. Mais do que ele gosta de mim? Talvez eu não devesse desistir da ideia da instituição psiquiátrica ainda.
Olhei para o relógio, a ranger os dentes. Como é que meros minutos podiam ser tão impossivelmente longos para um imortal? Onde é que estava a minha perspectiva?
O meu queixo estava cerrado ao longo de toda a aula de trigonometria do Sr. Varner. Ouvi mais aquilo do que da minha própria aula. Bella e Jessica não voltaram a falar, mas Jessica espreitou para Bella várias vezes, e uma vez o rosto dela estava vermelho de novo sem razão aparente.
O almoço não ia chegar rápido o suficiente.
Não tinha a certeza se Jessica ia ter algumas das respostas que eu estava à espera quando a aula terminasse, mas Bella foi mais rápida do que ela.
Assim que a campainha tocou, Bella virou-se para Jessica.
- Na aula de Inglês o Mike perguntou-me se tu comentaras algo a respeito da noite de segunda-feira - Disse Bella, um sorriso nos cantos dos lábios. Eu entendi aquilo, o ataque era a melhor defesa.
Mike perguntou sobre mim? A felicidade deixou a mente de Jessica repentinamente fora de guarda, gentil, sem o tom falso de costume – Estás a brincar! O que é que respondeste?
- Disse-lhe que tu referiras que te divertiras muito, ele pareceu satisfeito.
- Conta-me exactamente quais foram as palavras dele e o que lhe respondeste!
Claramente aquilo era tudo o que eu ia arrancar de Jessica hoje. Bella estava a sorrir como se estivesse a pensar na mesma coisa. Como se tivesse ganho a rodada.
Bom, o almoço seria outra história. Teria mais sucesso em ter as suas respostas dela do que de Jessica, ia-me certificar disso.
Mal pude suportar espiar os pensamentos da Jessica de vez em quando no quarto tempo. Não tinha paciência para seus pensamentos obsessivos sobre Mike Newton. Já o tinha aturado mais do que o suficiente nestas últimas duas semanas. Ele tinha sorte em estar vivo.
Mexi-me apaticamente ao longo da aula de educação física com a Alice, da maneira que nos mexíamos sempre quando se tratava de actividade física com os humanos. Ela era a minha colega de equipa, claro. Era o primeiro dia de badmington. Suspirei com o tédio, girando a raquete em câmara lenta para acertar no volante e mandá-lo para o outro lado. Lauren Mallory estava na outra equipa, falhou. A Alice estava a rodar a sua raquete como um bastão, a olhar para o tecto.
Todos nós odiávamos educação física, principalmente o Emmett. Fingir estar a jogar era um insulto à sua filosofia pessoal. Educação física hoje parecia pior do que o normal, sentia-me tão irritado como Emmett se sentia sempre.
Antes que a minha cabeça pudesse explodir com a impaciência, o treinador Clapp terminou os jogos e dispensou-nos mais cedo. Fiquei ridiculamente agradecido por ele ter não ter tomado o pequeno-almoço (uma nova tentativa de dieta) e consequentemente a fome tinha-o deixado com pressa para deixar a escola e encontrar uma sanduíche engordurada num sítio qualquer. Prometeu a si mesmo que amanhã ia começar tudo de novo…
Aquilo deu-me tempo suficiente para chegar ao edifício de matemática antes que a aula de Bella terminasse.
Diverte-te. Pensou Alice enquanto se afastava para ir ter com Jasper. Só mais alguns dias para ser paciente. Suponho que não vás dizer olá à Bella por mim, não é?
Abanei a cabeça, exasperado. Todas as psíquicas eram assim tão convencidas?
Só para que saibas, vai estar sol dos dois lados da baía este fim-de-semana. Talvez queiras mudar os teus planos.
Suspirei enquanto continuava para a direcção oposta. Convencida, mas útil.
Encostei-me contra a parede ao pé da porta, à espera. Estava perto o suficiente para ouvir a voz de Jessica através dos tijolos, assim como os seus pensamentos.
- Hoje não vais sentar-te à nossa mesa pois não? - Ela parece… animada. Aposto que há uma data de coisas que ela não me contou.
- Não me parece – Respondeu Bella, estranhamente insegura.
Eu não lhe tinha prometido que passava a hora de almoço com ela? No que é que ela estava a pensar?
Saíram juntas da sala, e os olhos das ambas arregalaram-se quando me viram. Mas eu só conseguia ouvir Jessica.
Boa. Uau. Ah sim, há mais coisas que ela não me contou. Talvez lhe telefone hoje à noite… Ou talvez não a devesse encorajar. Huh. Espero que ele a deixe rapidamente. O Mike é bonitinho, mas… Uau.
- Vemo-nos mais logo Bella.
Bella andou na minha direcção, parando a um passo de distância, ainda insegura. A sua pele estava rosada ao longo das bochechas.
Agora conhecia-a bem o suficiente para ter certeza que não havia medo por trás da sua hesitação. Aparentemente, isso era devido a uma idiotice qualquer que ela tinha imaginado entre os sentimentos dela e os meus. Mais do que ele gosta de mim. Absurdo!
- Olá - Disse, a minha voz estava um bocado seca.
O rosto dela ficou mais brilhante – Viva!
Não parecia que ela fosse dizer mais alguma coisa, então eu abri caminho até ao refeitório e ela caminhou silenciosamente ao meu lado.
O casaco tinha funcionado, o cheiro dela não foi o golpe que normalmente era. Era só uma intensificação da dor que já sentia. Conseguia ignorar mais facilmente do que alguma vez tinha acreditado ser possível.
Bella estava inquieta enquanto esperávamos na fila, a brincar distraída com o fecho do casaco e a mudar o peso, nervosa, de um pé para o outro. Ela olhou para mim algumas vezes, mas sempre que encontrava o meu olhar, olhava para baixo como se estivesse envergonhada. Será que era por estar tanta gente a olhar para nós? Talvez ela conseguisse ouvir os cochichos. As fofoquices eram tão verbais quanto mentais hoje.
Ou talvez ela tenha percebido, pela minha expressão, que estava em sarilhos.
Ela não disse nada até que eu comecei a reunir o seu almoço. Não sabia do que é que ela gostava, ainda não, portanto agarrei numa coisa de cada.
- O que estás a fazer? – Protestou numa voz baixa – Não vais levar isso tudo para mim pois não?
Abanei a cabeça, e deslizei o tabuleiro para a zona da caixa – Metade é para mim, como é evidente.
Ela levantou uma sobrancelha cepticamente, mas não disse mais nada enquanto eu pagava a comida e a acompanhava à mesa onde estivemos sentados na semana passada antes da experiência desastrosa com a recolha de sangue. Parecia que tinha sido há mais tempo do que há alguns dias. Agora estava tudo diferente.
Ela sentou-se à minha frente outra vez. Eu empurrei o tabuleiro na sua direcção.
- Tira o que desejares – Encorajei-a.
Ela escolheu uma maçã e virou-a nas suas mãos, tinha um olhar pensativo no seu rosto.
- Estou curiosa.
Que surpresa.
- O que farias se alguém te desafiasse a ingerir comida? – Continuou com uma voz baixa que não alcançaria os ouvidos humanos. Os ouvidos imortais eram outro assunto, se esses ouvidos estivessem a prestar atenção. Eu provavelmente devia-lhes ter dito alguma coisa mais cedo…
- Estás sempre curiosa – Queixei-me. Oh, bem. Não era como se eu nunca tivesse comido antes. Isso fazia parte da fachada. Uma parte desagradável.
Procurei pela coisa mais próxima, e fixei o olhar dela enquanto eu mordia um pedaço do que quer que fosse. Sem olhar, não conseguia perceber o que era. Era repugnante e espesso e repulsivo como qualquer outra comida humana. Mastiguei rapidamente e engoli, tentando não fazer nenhuma careta. A pequena quantidade de comida moveu-se lenta e desconfortavelmente pela minha garganta abaixo. Eu suspirei enquanto pensava em como a ia ter que tirar mais tarde. Nojento.
A expressão de Bella estava chocada. Impressionada.
Eu quis revirar os olhos.
- Se alguém te desafiasse a comer terra, podias fazê-lo, não podias?
O seu nariz torceu-se e depois ela sorriu – Já comi… num jogo de verdade ou consequência. Não foi assim tão mau.

Sim, na tradução do livro diz que foi num ‘encontro’. É só para verem a que ponto a tradução portuguesa foi mal feita nos nossos livros.

Eu ri-me – Suponho que não estou surpreendido.
Eles parecem à vontade, não parecem? Boa linguagem corporal. Mais tarde eu digo à Bella a minha opinião. Ele está inclinando na direcção dela como é suposto, se estiver interessado. Ele parece interessado. Ele parece… perfeito - Jessica suspirou - Ai ai.
Encontrei os olhos curiosos de Jessica, e ela desviou o olhar nervosa, a dar risinhos à rapariga do lado.
Hum. É melhor eu ficar com o Mike. Realidade, não fantasia…
- A Jessica está a analisar tudo o que eu faço – Informei Bella – Há-de facultar-te a sua interpretação mais logo.
Empurrei o prato de comida na direcção dela de novo, aí percebi que era pizza, e imaginei a melhor forma de começar. A minha anterior frustração queimou novamente enquanto as palavras se repetiam na minha cabeça: Mais do que ele gosta de mim. Mas não vejo como evitá-lo.
Ela deu uma mordidela na mesma fatia de pizza. Impressionou-me como ela era tão confiante. Claro, ela não sabia que eu era venenoso, não que aquele pedaço de comida a pudesse magoar. Ainda assim, eu estava à espera que ele me tratasse de maneira diferente. Nunca fazia isso, pelo menos, não de uma forma negativa…
Eu devia começar de uma forma gentil.
- Com que então a empregada de mesa era bonita?
Ela levantou uma sobrancelha outra vez – Não reparaste mesmo?
Como se qualquer outra mulher pudesse tirar a minha atenção de Bella. Absurdo, de novo.
- Não, não estava a prestar atenção. Tinha muito em que pensar – E uma das coisas foi a fina camisa dela…
Ainda bem que ela tinha vestido aquela horrível camisola hoje.
- Pobre rapariga - Disse Bella, a sorrir.
Ela gostou que eu não tivesse achado a empregada interessante em nenhuma maneira. Eu conseguia entender isso. Quantas vezes é que eu me tinha imaginado a mutilar o Mike Newton na sala de biologia?
Ela não podia mesmo acreditar que os seus sentimentos humanos, fruto de dezassete curtos anos humanos, podiam ser mais fortes que as paixões imortais que tinham estado a crescer dentro de mim durante um século.
- Algo que disseste à Jessica… - Eu não conseguia manter a minha voz casual – Bem, incomoda-me.
Ela colocou-se imediatamente na defensiva – Não me admira que tenhas ouvido algo que não te agradou. Sabes o que se diz das pessoas que escutam as conversas alheias…
Que essas pessoas nunca ouvem coisas boas sobre eles próprios, era esse o ditado.
- Eu avisei-te que estaria à escuta – Lembrei-a.
- E eu avisei-te de que não querias saber tudo o que eu pensava.
Ah, ela estava a pensar de quando eu a fiz chorar. O remorso fez a minha voz ficar mais séria.
- Pois avisaste. No entanto, não estás bem certa. Eu quero, de facto, saber o que estás a pensar, tudo. Só gostaria que não pensasses algumas coisas.
Mais meias - verdades. Eu sabia que não devia querer que ela gostasse de mim. Mas eu queria. É claro que eu queria.
- Grande diferença – Queixou-se, a fazer uma careta com um olhar carregado.
- Mas não é propriamente essa a questão neste momento.
- Então, qual é?
Inclinou-se na minha direcção, a mão dela à volta do seu pescoço. Isso atraiu o meu olhar, distraindo-me. Como a sua pele devia ser suave…
Concentra-te, ordenei a mim próprio.
- Crês verdadeiramente que gostas mais de mim do que eu de ti? - Perguntei. A pergunta soava ridícula para mim, como se as palavras estivessem trocadas.
Os seus olhos estavam bem abertos, a respiração parou. Depois ela desviou o olhar, piscando rapidamente os olhos. A respiração dela voltou baixo suspiro.
- Estás a fazê-lo novamente - Murmurou.
- O quê?
- A deslumbrar-me – Admitiu ela, a olhar-me cuidadosamente nos olhos.
- Ah - Hum. Eu não sabia bem o que fazer em relação a isso. Nem tinha a certeza de que não a queria deslumbrar. Eu ainda estava excitado por saber que o conseguia fazer. Mas isso não estava a ajudar o progresso da conversa.
- A culpa não é tua - Suspirou – Não consegues evitar.
- Vais responder à pergunta? – Quis saber.
Ela olhou para a mesa – Sim,
Foi tudo o que ela disse.
- Referes-te a responder à pergunta ou ao facto de realmente pensares assim? - Perguntei impacientemente.
- Sim, penso mesmo assim – Disse ela sem olhar para cima. Havia um leve tom de tristeza na sua voz. Ela corou de novo, e os seus dentes mexeram-se inconscientemente para mordiscar o lábio.
Abruptamente, percebi que para ela aquilo era muito difícil de admitir, porque ela acreditava realmente naquilo. E eu não era melhor do que aquele cobarde, Mike, a pedir para que ela confirmasse os seus sentimentos antes de eu confirmar os meus próprios. Não importava que eu sentisse que tivesse posto o meu lado absolutamente claro. Eu ainda não lhe tinha dito, e isso não tinha desculpa.
- Estás enganada – Garanti-lhe. Ela deve ter ouvido a ternura na minha voz.
Bella olhou para mim, os seus olhos opacos não me disseram nada – Não podes saber isso - Murmurou.
Ela pensava que eu estava a subestimar os seus sentimentos porque não conseguia ouvir os seus pensamentos. Mas, na verdade, o problema é que ela estava a subestimar os meus.
- O que te leva a pensar assim? - Perguntei.
Ela olhou para mim, com a ruga entre as suas sobrancelhas, a morder os lábios. Pela milionésima vez, desejei desesperadamente poder ouvi-la.
Eu estava prestes a implorar para que ela me dissesse o que tanto pensava, mas ela levantou um dedo para me impedir de falar.
- Deixa-me pensar - Pediu.
Desde que ela estivesse simplesmente a organizar os seus pensamentos, eu podia ser paciente.
Ou fingir que era.
Ela pressionou as mãos uma contra a outra, cruzando e descruzando os seus dedos finos. Ela estava a olhar para as suas mãos como se pertencessem a outra pessoa enquanto falava.
- Bem, além do óbvio – Murmurou - Por vezes… Não posso ter a certeza, pois não consigo adivinhar pensamentos, mas por vezes parece que estás a tentar despedir-te quando estás a dizer outra coisa – Não olhou para cima.
Ela tinha percebido aquilo, não tinha? Será que ela percebia que era apenas fraqueza e egoísmo que me mantinham aqui? Pensava menos de mim por causa disso?
- És muito perspicaz - Expirei, e depois vi com horror a dor que passava na sua expressão. Apressei-me a contradizer a sua suposição – É, porém, exactamente por isso que estás enganada - Comecei, e depois parei, lembrando-me das primeiras palavras da sua explicação – A que te referes quando falas do “óbvio”?
- Bem, olha para mim – Disse.
Eu estava a olhar. Tudo o que eu fazia era olhar para ela. O que ela queria dizer?
- Suo absolutamente vulgar – Explicou – Bem, à excepção de todos os aspectos negativos, como as experiências de morte iminente e o facto de ser tão desastrada que quase chego a ser inválida. Agora olha para ti - Abanou o ar na minha direcção com a mão, como se estivesse a explicar uma coisa tão óbvia que não valia a pena descrever.
Ela pensava que era vulgar? Pensava que eu era de alguma forma preferível a ela? Na avaliação de quem? Pessoas tolas, com a mente pequena, humanos cegos como Jessica ou a Sra. Cope? Como é que ela não percebia que era a coisa mais bela… mais extraordinária… essas palavras nem sequer eram o suficiente.
E ela não fazia ideia.
- Sabes, não tens uma imagem muito clara de ti mesma – Disse-lhe – Admito que estás absolutamente certa quanto aos aspectos negativos – Ri-me sem humor. Eu não achava cómico o destino miserável que a assombrava. Ser desastrada, no entanto, era um pouco engraçado. Amoroso. Será que acreditaria em mim se eu lhe dissesse que era linda por dentro e por fora? Talvez ela achasse corroboração mais persuasiva - Mas não ouviste o que cada humano do sexo masculino pensou no teu primeiro dia de aulas.
Ah, a esperança, a excitação, a ansiedade daqueles pensamentos. A velocidade em que se tornaram em fantasias impossíveis. Impossíveis, porque ela não queria nenhum deles.
Eu fui aquele a quem ela disse sim.
O meu sorriso devia estar a parecer convencido.
O rosto dela estava branco com surpresa – Não acredito – Murmurou.
- Confia em mim só desta vez, és o contrário de vulgar.
Só a sua existência era desculpa o suficiente para a criação do mundo inteiro.
Ela não estava habituada a elogios, eu conseguia ver isso. Outra coisa a qual ela simplesmente ia ter que se habituar. Corou, e mudou de assunto – Mas eu não vou despedir-me de ti.
- Será que não vês? É isso que prova que eu tenho razão. Os meus sentimentos são mais fortes, pois, se eu consigo fazê-lo… - Será que algum dia eu seria bondoso o suficiente para fazer a coisa certa? Abanei a cabeça em desespero. Ia ter que arranjar a força. Ela merecia uma vida, não aquilo que Alice tinha previsto para ela – Se partir for a atitude correcta a tomar - E tinha que ser a coisa certa, não tinha? Não havia nenhum anjo imprudente. Bella não me pertencia – Magoar-me-ei a mim mesmo para evitar magoar-te, para manter-te a salvo.
Enquanto eu dizia as palavras, desejei que fossem verdade.
Ela olhou para mim. De alguma forma, as minhas palavras tinham-na chateado – E tu julgas que eu não faria o mesmo? – Perguntou furiosamente.
Tão furiosa, tão suave e tão frágil. Como é que ela poderia alguma vez magoar alguém? – Jamais terias de tomar tal decisão – Disse-lhe, novamente triste pela grande diferença entre nós.
Fitou-me, a preocupação substituiu a raiva nos seus olhos, e trouxe de volta a pequena ruga entre eles.
Havia algo verdadeiramente errado com a ordem do universo se alguém tão bom e tão quebrável não merecesse um anjo da guarda para a manter de problemas.
Bem, pensei com um humor negro, pelo menos tem um vampiro da guarda.
Sorri. Como eu gostava da minha desculpa para ficar – É claro que manter-te a salvo começa a revelar-se uma ocupação a tempo inteiro que requer a minha presença constante.
Ela também sorriu – Ninguém tentou-se livrar de mim hoje – Disse ligeiramente, e então a sua expressão tornou-se especulativa durante meio segundo antes dos seus olhos ficarem opacos novamente.
- Por enquanto - Adicionei secamente.
- Por enquanto – Concordou, para minha surpresa. Estava à espera que ela recusasse qualquer tipo de protecção.
Como é que ele pôde? Aquele parvalhão egoísta! Como ele nos pôde fazer isto? O ataque mental e incisivo de Rosalie quebrou a minha concentração.
- Calma, Rose - Ouvi Emmett sussurrar do outro lado do refeitório. O braço dele estava à volta dos ombros dela, a segurá-la firmemente ao seu lado, a prendê-la.
Desculpa, Edward – Pensou Alice num tom culpado. – Ela conseguiu perceber que a Bella sabia demasiado pela vossa conversa… e, bem, teria sido pior se eu não lhe tivesse dito logo a verdade. Confia em mim.
Estremeci ao ver a figura mental que se seguiu, do que teria acontecido se eu dissesse à Rosalie que Bella sabia que eu era um vampiro em casa, onde Rosalie não tinha uma fachada a manter. Eu ia ter que esconder meu Aston Martin nalgum sítio fora do estado se ela não se acalmasse até que o dia escolar acabasse. A visão do meu carro preferido, destruído e a arder, foi perturbadora, embora eu soubesse que merecia a retribuição.
Jasper não estava muito mais feliz.
Eu trataria dos outros mais tarde. Eu tinha muito pouco tempo para ficar com Bella, e não ia desperdiçá-lo. E ouvir Alice lembrou-me que eu tinha algumas coisas a tratar.
- Tenho outra pergunta para te fazer – Disse, desligando os ataques histéricos mentais de Rosalie.
- Diz - Disse Bella a sorrir.
- Precisas mesmo de ir a Seattle no próximo fim-de-semana ou tal não passou de um pretexto para evitares recusar os convites de todos os teus admiradores?
Ela fez-me uma careta – Sabes, ainda não te perdoei por causa do Tyler. Foi por tua culpa que ele se iludiu, pensando que eu vou ao baile com ele.
- Oh, ele teria arranjado uma oportunidade para te convidar sem a minha ajuda. Eu só queria mesmo ver a tua cara.
Agora eu ri-me, ao lembrar-me da sua expressão chocada. Nada que eu lhe tinha dito sobre a minha própria história negra a tinha feito parecer tão aterrorizada. A verdade não a assustava. Ela queria estar comigo. Espantoso.
- Se eu te tivesse convidado, tu ter-me-ias rejeitado?
- Provavelmente não – Disse – Mas teria cancelado o compromisso mais tarde, inventando uma doença ou uma entrose num tornozelo.
Que estranho – Porque farias isso?
Ela abanou a cabeça, como se estivesse desapontada por eu não ter percebido à primeira – Suponho que nunca me viste na aula de Educação Física, mas pensei que compreenderias.
Ah – Estás a referir-te ao facto de não conseguires percorrer uma área plana e estável sem encontrar algo em que tropeçar?
- É claro.
- Isso não constituiria um problema. Tem tudo a ver com a forma como a dança é conduzida.
Por uma breve fracção de segundo, fui submerso na ideia de a segurar nos meus braços numa dança, onde ela de certeza usaria algo bonito e delicado em vez desta camisola horrível.
Com perfeita clareza, lembrei-me de como o corpo dela tinha sentido por baixo do meu depois de eu a tirar do caminho da carrinha desgovernada. Mais forte do que o pânico ou o desespero, eu conseguia lembrar-me daquela sensação. Ela tinha estado tão quente e tão macia, encaixando-se perfeitamente na minha própria forma de pedra…
Libertei-me da memória.
- Mas nunca chegaste a contar-me - Disse rapidamente, impedindo-a de discutir comigo sobre ser desastrada, como queria de certeza fazer – Estás decidida a ir a Seattle ou importas-te que nós façamos algo diferente?
Dei-lhe a possibilidade de escolha, sem lhe dar a opção de se afastar de mim naquele dia. Pouco justo da minha parte. Mas eu tinha-lhe feito uma promessa a noite passada… E gostei da ideia de a poder cumprir, quase tanto como a ideia me aterrorizava.
O sol ia estar a brilhar no sábado. Eu podia mostrar-lhe o verdadeiro eu, se fosse corajoso o suficiente para suportar o seu horror e repugnância. Eu conhecia o lugar ideal para correr tal risco…
- Estou aberta a outras opções – Disse Bella – Mas tenho um favor a pedir-te.
Absolutamente um sim. O que é que ela podia querer de mim?
- Qual?
- Posso conduzir?
Era esta a sua ideia de humor? – Porquê?
- Bem, principalmente porque quando disse ao Charlie que ia a Seattle, ele perguntou-me especificamente se ia sozinha. E, na altura, ia. Se ele voltasse a perguntar, eu provavelmente não mentiria, mas não me parece que ele o faça, e o facto de deixar a minha pick-up em casa só contribuiria para que o assunto viesse à baila desnecessariamente. Além disso, também porque a maneira como conduzes me assusta.
Revirei os olhos – De todas as coisas sobre mim que podiam assustar-te, preocupas-te com a minha maneira de conduzir - Realmente, o cérebro dela funcionava de trás para a frente. Abanei a cabeça, com irritação.
Edward – Chamou Alice urgentemente.
De repente eu estava a olhar para um círculo de luz do sol, apanhado numa das visões da Alice.
Era um lugar que eu conhecia bem, o lugar que eu tinha acabado de considerar para levar Bella, uma pequena clareira onde ninguém ia além de mim. Um lugar bonito e calmo onde eu podia estar sozinho, longe o suficiente de qualquer caminho ou habitação humana. Um sítio onde até a minha mente podia ficar calma e ter paz.
A Alice também reconheceu aquele sítio, porque tinha-me visto lá há algum tempo, noutra visão, uma daqueles visões rápidas e indistintas que Alice me tinha mostrado no dia em que salvei Bella da carrinha.
Naquela visão rápida, eu não tinha estado sozinho. E agora estava mais claro, Bella estava lá comigo. Então eu era corajoso o suficiente. Ela olhou para mim, arco-íris a dançar no seu rosto, os olhos demasiado complicados para serem percebidos.
É o mesmo lugar. Pensou Alice, a mente dela estava cheia com um horror que não combinava com a visão. Tensão, talvez, mas horror? O que é que ela quis dizer, é o mesmo lugar?
E então eu vi.
Edward! Protestou Alice, estridente. Eu adoro-a, Edward!
Desviei os pensamentos dela, sem piedade.
Ela não gostava da Bella da mesma maneira que eu. A visão dela era impossível. Errada. Ela estava cega, de alguma maneira, a ver coisas impossíveis.
Nem sequer tinha passado meio segundo. A Bella estava a olhar curiosamente para a minha cara, à espera que eu concordasse com o seu pedido. Será que ela tinha visto o lampejo de terror, ou tinha sido demasiado rápido para ela?
Concentrei-me nela, na nossa conversa inacabada, e a afastar a Alice e as suas visões mentirosas dos meus pensamentos. Elas não mereciam a minha atenção.
Mas não consegui manter o tom de brincadeira na minha voz.
- Não queres contar ao teu pai que vais passar o dia comigo? - Perguntei, um tom sombrio cobria a minha voz.
- Tratando-se de Charlie, quanto menos souber, melhor - Disse Bella, segura daquele facto – Já agora, onde vamos?
A Alice estava errada. Completamente errada. Não havia oportunidade daquilo acontecer. Era simplesmente uma visão antiga, agora inválida. As coisas tinham mudado.
- O tempo estará agradável – Disse-lhe lentamente, a lutar contra o pânico e a indecisão. A Alice estava errada. Eu ia continuar como se não tivesse ouvido ou visto nada – Portanto evitarei aparecer em público. E tu podes ficar comigo, se assim desejares.
Bella percebeu o significado daquilo à primeira. Os seus olhos estavam brilhantes e ansiosos – E mostras-me aquilo a que te referias, a respeito do Sol?
Talvez, como tantas vezes antes, a reacção dela fosse o oposto do que eu esperava. Sorri com essa possibilidade, e lutei para voltar ao momento mais leve - Mostro, mas… - Ela ainda não tinha tido sim – Se não quiseres ficar… a sós comigo, continuo a preferir que não vás a Seattle sozinha. Tremo só de pensar nos sarilhos que poderias arranjar numa cidade daquele tamanho.
Os lábios dela juntaram-se. Estava ofendida.
- Phoenix é três vezes maior do que Seattle, apenas em termos populacionais. A nível de dimensão geográfica…
- Mas pelos vistos ainda não tinhas dado o teu melhor quando lá estavas - Disse, a cortar as suas justificações – Assim, preferia que ficasses perto de mim.
Podia ficar para sempre que ainda não seria o tempo suficiente.
Eu não devia pensar assim. Nós não tínhamos para sempre. Os segundos passavam mais depressa do que antes, cada segundo mudava-a enquanto eu continuava o mesmo.
- Por acaso, não me importo de ficar a sós contigo – Disse ela.
Não, porque os seus instintos estavam completamente do avesso.
- Eu sei - Suspirei – Mas devias informar o Charlie.
- Por que carga de água haveria de fazer isso? - Perguntou, a parecer horrorizada.
Olhei para ela, as visões que eu não conseguia bem reprimir a girar enjoativamente na minha cabeça.
- Para me dares um pequeno incentivo para te trazer de volta – Disse num tom enervado. Ela devia-me dar pelo menos isso, uma testemunha para me obrigar a ser cauteloso.
Por que é que a Alice teve que me forçar a tudo isto agora?
Bella engoliu ruidosamente, e olhou para mim durante um longo momento. O que tinha ela visto?
- Acho que correrei esse risco - Disse.
Argh! Ela via alguma animação em arriscar a vida? Ansiava por algum momento de adrenalina?
Eu fiz careta à Alice, que me olhou com uma expressão de advertência. Ao lado dela, Rosalie estava a encarar-me furiosamente, mas não me podia ter importado menos. Ela que destrua o carro. É só um brinquedo.
- Vamos conversar sobre outra coisa - Sugeriu Bella de repente.
Voltei a olhar para ela, a perguntar-me como é que ela podia ser tão indiferente ao que importava na realidade. Por que é que ela não via o mostro que eu era?
- Queres conversar sobre o quê?
Os seus olhos viraram-se para a esquerda e para a direita, como se estivesse a confirmar que ninguém estava a ouvir. Ela devia estar a planear conversar sobre outro tópico relacionado com mitos. Os seus olhos congelaram por um segundo e o seu corpo ficou rígido. Então olhou para mim.
- Porque foste àquele lugar chamado Goat Rocks no fim-de-semana passado? Foste caçar? O Charlie disse que não era um bom sítio para passear, devido aos ursos.
Tão indiferente. Continuei a olhar para ela, com uma sobrancelha levantada.
- Ursos? - Ofegou.
Sorri ironicamente, prestando atenção enquanto ela absorvia aquilo. Isto faria com que ela me levasse a sério? Será que alguma coisa fazia?
Ela recompôs a expressão – Sabes, não estamos na época dos ursos – Disse ela severamente, a semicerrar os olhos.
- Se leres com atenção, as leis só abrangem a caça com armas.
Ela perdeu o controlo do seu rosto por um momento. Os seus lábios abriram-se.
- Ursos? - Disse outra vez, uma pergunta experimental desta vez, não a ofegar de choque.
- O urso-pardo é o preferido de Emmett.
Observei os olhos dela, a ver aquilo a assentar.
- Hum - Murmurou. Mordeu um pedaço de pizza, a olhar para baixo. Mastigou pensativamente, então tomou uma bebida.
- Então – Disse, finalmente a olhar para cima – Qual é o teu preferido?
Supus que devia ter esperado algo assim, mas não tinha. Bella era sempre interessante, no mínimo.
- O leão da montanha - Respondi bruscamente.
- Ah – Disse ela com uma voz neutra. Os seus batimentos cardíacos continuaram estáveis e regulares, como se estivéssemos a discutir um restaurante preferido.
Tudo bem, então. Se ela queria agir como se isto não fosse nada de anormal…
- Como é evidente, temos de ter o cuidado de não causar impacto no ambiente com a caça imprudente – Disse-lhe, a minha voz distanciada e sem emoção – Tentamos concentra-nos em áreas com um excesso de predadores, distanciando-nos no terreno tanto quanto o necessário. Aqui, existe sempre uma grande abundância de veados e alces e estes servem, mas que gozo dá caçá-los?
Ela ouviu com uma expressão educadamente interessada, como se eu fosse um professor a ditar trabalhos de casa. Tive que sorrir.
- Sim, de facto - Murmurou calmamente, e mordeu outro pedaço de pizza.
- O inicio da Primavera é a época de caça ao urso preferido do Emmett – Disse eu, a continuar a lição – Estão mesmo a sair da hibernação, e por isso, estão mais irritáveis.
Setenta anos depois, e ele ainda não tinha ultrapassado o facto de ter perdido aquela primeira luta.
- Não há nada mais divertido do que um urso-pardo irritado – Concordou Bella, a acenar solenemente.
Não consegui conter um riso quando abanei a cabeça à calma ilógica dela. Tinha que ser fingida – Por favor, diz-me o que estás a pensar.
- Estou a tentar imaginar, mas não consigo - Disse, a pequena ruga a aparecer entre os seus olhos – Como é que vocês caçam um urso sem armas?
- Oh, nós temos armas – Disse-lhe, e depois abri um largo sorriso. Estava à espera que ela se encolhesse, mas ficou parada, a olhar para mim – Só que não são do tipo daquelas que se levam em consideração quando se redigem as leis de caça. Se já assististe ao ataque de um urso na televisão, devias conseguir visualizar a caçada do Emmett.
Ela deu uma olhadela à mesa onde os outros estavam sentados, e arrepiou-se.
Finalmente. E aí ri-me de mim próprio, porque parte de mim queria que ela continuasse indiferente àquilo.
Os seus olhos escuros estavam arregalados e profundos quando ela voltou a olhar para mim – Também te assemelhas a um urso? - Perguntou, quase a sussurrar.
- Assemelho-me mais ao leão, ou pelo menos é isso que me dizem – Disse-lhe, a tentar soar desinteressado novamente – Talvez as nossas preferências sejam indicativas.
Os seus lábios levantaram-se um bocado nos cantos - Talvez - Repetiu. E depois a cabeça inclinou-se para o lado, e a curiosidade estava inesperadamente expressa nos seus olhos – Trata-se de algo a que poderei assistir?
Eu não precisava das imagens de Alice para ilustrar este horror, a minha imaginação já era boa o suficiente.
- Claro que não! – Rosnei-lhe.
Ela desviou-se de mim, os seus olhos espantados e assustados.
Eu também me afastei, queria deixar algum espaço entre nós. Ela nunca ia ver, pois não? Ela não ia mesmo fazer uma coisa sequer para me ajudar a mantê-la viva.
- É algo demasiado assustador para mim – Perguntou-me, com a voz controlada. No entanto o seu coração ainda se estava a mexer com o dobro da velocidade.
- Se o problema fosse esse, levava-te hoje mesmo a fazê-lo – Respondi entre dentes – Tu precisas de uma dose saudável de medo. Nada te seria tão benéfico.
- Então porquê? – Perguntou, insistente.
Fitei-a sombriamente, à espera que ela ficasse com medo. Eu estava com medo. Conseguia imaginar demasiado claramente ter Bella por perto enquanto caçava…
Os olhos dela continuaram curiosos, impacientes, nada mais. Ela esperou pela sua resposta, sem ceder.
Mas a nossa hora tinha acabado.
- A resposta a essa pergunta fica para depois – Disse rapidamente, e pus-me de pé – Vamos chegar atrasados.
Ela olhou à volta dela própria, desorientada, como se tivesse esquecido de que estava no almoço. Como se tivesse esquecido que estávamos na escola sequer, estava surpreendida por não estarmos a fazer sozinhos nalgum lugar particular. Eu entendia exactamente esse sentimento. Era difícil lembrar-me do resto do mundo quando eu estava com ela.
Ela levantou-se rapidamente, abanou a cabeça uma vez, e depois pôs a mochila no ombro.
- Fica então para depois – Disse ela, e eu consegui ver a determinação na sua boca.




Meus meninos e meninas! 1º que tudo, obrigada pelos imeeeensos convites no hi5! Só volto a pedir: Se me convidaram e eu ainda não aceitei é porque nao me avisaram que eram aqui do blog, avisem-me sff, para eu aceitar o convite (:
2º , devido a razões pessoais (escolares, digamos assim! ) não vou postar nada esta semana, tenho teste esta semana e é já preparação para exames nacionais. E preciso de algum tempinho para mim, porque quando estou a traduzir fico assim a modos que sem vida própria, é o vício! :P
Peço desculpa, e divirtam-se!